Vincent River, em cartaz no Sesc Vila Mariana, com Sandra Corveloni e Thales Cabral no palco e direção de Darson Ribeiro, é daqueles espetáculos de tirar o fôlego.
Vincent River é uma obra-prima premiada do autor britânico Philip Ridley. É o seu quarto drama e estreou no Hampstead Theatre, em Londres, em 6 de setembro de 2000.
Vincent é o único filho de Anita, brutalmente assassinado por uma gang de jovens homofóbicos no banheiro de uma estação de trem abandonada.
Anita recebe a visita de Davey, que a persegue há dias e certamente sabe detalhes sobre o assassinato. Ele é um garoto de apenas dezessete anos que está perturbado e viu algo que o atormenta, que não consegue esquecer.
Impossível não se emocionar com um texto que fala da dor da perda e coloca em evidência o quanto o preconceito, no caso a homofobia, pode gerar a violência e acabar com vidas e sonhos.
Impossível não se emocionar com a atuação de atores em plena sintonia, guiados com precisão por um diretor sensível, que foca a encenação na interpretação e na força da palavra, mas não deixa de imprimir nas cenas uma plástica que colabora para que os sentimentos dos personagens aflorem com vigor.
Cenário, trilha, figurino, elementos de cena, direção e interpretação dos atores formam um todo preciso que evidencia com maestria a riqueza de um texto extremamente atual e que trata de um assunto de suma importância, o respeito às diferenças, o respeito ao próximo.
Num cenário com caixas, ferros e tijolos expostos, que coloca a ação num pequeno apartamento onde Anita se mudou porque não aguentava mais os comentários preconceituosos dos vizinhos sobre o seu filho e o seu triste fim, estão dois atores plenos, que estabelecem um diálogo instigante.
Dois personagens solitários, anestesiados pela dor e que tecem um jogo de revelações perturbadoras. Uma mulher aparentemente dura devido às mazelas de sua vida e um garoto descobrindo a sexualidade e o amor. Um encontro pungente, sufocante e também com momentos de pura delicadeza.
Interpretações seguras graças à direção precisa nos mínimos detalhes. Gestos que muitas vezes são milimetricamente colocados no palco para ressaltar o teor de uma fala ou são iguais para ressaltar o vazio de duas pessoas que diante de uma grande perda precisam continuar a viver; apesar de tudo a vida continua.
São silêncios, emoções contidas, mas também explosões de sentimentos que transbordam no palco. Momentos de raiva e repulsa e outros momentos de carinho e compaixão.
Sandra Corveloni merece aplausos especiais. Atriz de experiência no teatro, leva para o palco as nuances de sua personagem de maneira arrebatadora. A sua entrega cativa. Coloca em evidência a dor que está aparentemente contida, mas que pulsa de maneira avassaladora no seu coração. Uma alma dolorida com ímpetos de desespero e ações que revelam os sentimentos de uma personagem solitária, impulsiva, compulsiva, que amava muito o seu filho e não sabe como lidar não somente com a perda, mas com o preconceito que assola o cotidiano. Trabalho arrebatador.
Um espetáculo que precisa ser visto por todos os cidadãos para que ações de violência não aconteçam. Debater a homofobia, a importância do amor e o respeito ao próximo é essencial e essa montagem propõe reflexões sérias de uma maneira muito inteligente.
Críticas - Teatro Adulto
Vincent River fala da dor da perda e da violência fruto da homofobia
Publicado em 07/09/2018, 14:00
23
Facebook Share Button
Vincent River, em cartaz no Sesc Vila Mariana, com Sandra Corveloni e Thales Cabral no palco e direção de Darson Ribeiro, é daqueles espetáculos de tirar o fôlego.
Vincent River é uma obra-prima premiada do autor britânico Philip Ridley. É o seu quarto drama e estreou no Hampstead Theatre, em Londres, em 6 de setembro de 2000.
Vincent é o único filho de Anita, brutalmente assassinado por uma gang de jovens homofóbicos no banheiro de uma estação de trem abandonada.
Anita recebe a visita de Davey, que a persegue há dias e certamente sabe detalhes sobre o assassinato. Ele é um garoto de apenas dezessete anos que está perturbado e viu algo que o atormenta, que não consegue esquecer.
Impossível não se emocionar com um texto que fala da dor da perda e coloca em evidência o quanto o preconceito, no caso a homofobia, pode gerar a violência e acabar com vidas e sonhos.
Impossível não se emocionar com a atuação de atores em plena sintonia, guiados com precisão por um diretor sensível, que foca a encenação na interpretação e na força da palavra, mas não deixa de imprimir nas cenas uma plástica que colabora para que os sentimentos dos personagens aflorem com vigor.
Cenário, trilha, figurino, elementos de cena, direção e interpretação dos atores formam um todo preciso que evidencia com maestria a riqueza de um texto extremamente atual e que trata de um assunto de suma importância, o respeito às diferenças, o respeito ao próximo.
Num cenário com caixas, ferros e tijolos expostos, que coloca a ação num pequeno apartamento onde Anita se mudou porque não aguentava mais os comentários preconceituosos dos vizinhos sobre o seu filho e o seu triste fim, estão dois atores plenos, que estabelecem um diálogo instigante.
Dois personagens solitários, anestesiados pela dor e que tecem um jogo de revelações perturbadoras. Uma mulher aparentemente dura devido às mazelas de sua vida e um garoto descobrindo a sexualidade e o amor. Um encontro pungente, sufocante e também com momentos de pura delicadeza.
Interpretações seguras graças à direção precisa nos mínimos detalhes. Gestos que muitas vezes são milimetricamente colocados no palco para ressaltar o teor de uma fala ou são iguais para ressaltar o vazio de duas pessoas que diante de uma grande perda precisam continuar a viver; apesar de tudo a vida continua.
São silêncios, emoções contidas, mas também explosões de sentimentos que transbordam no palco. Momentos de raiva e repulsa e outros momentos de carinho e compaixão.
Sandra Corveloni merece aplausos especiais. Atriz de experiência no teatro, leva para o palco as nuances de sua personagem de maneira arrebatadora. A sua entrega cativa. Coloca em evidência a dor que está aparentemente contida, mas que pulsa de maneira avassaladora no seu coração. Uma alma dolorida com ímpetos de desespero e ações que revelam os sentimentos de uma personagem solitária, impulsiva, compulsiva, que amava muito o seu filho e não sabe como lidar não somente com a perda, mas com o preconceito que assola o cotidiano. Trabalho arrebatador.
Um espetáculo que precisa ser visto por todos os cidadãos para que ações de violência não aconteçam. Debater a homofobia, a importância do amor e o respeito ao próximo é essencial e essa montagem propõe reflexões sérias de uma maneira muito inteligente.
O teatro tem o poder de levantar reflexões e quanto mais colocarmos em pauta situações trágicas como a exposta em Vincent River, mais perto de um mundo mais justo estaremos.
Como sempre digo, a arte é que pode nos salvar do caos em que o mundo se encontra.
Vincent River e uma obra de 2000 e de lá para cá a questão da homofobia, e de todo o tipo de desrespeito para com o próximo, ainda continua promovendo desavenças e atos absurdos.
O espetáculo está lotando o auditório do Sesc vila Mariana pela sua qualidade artística, mas sem dúvida a urgência do assunto abordado faz com que a cada sessão mais pessoas se interessem por essa montagem.
A temporada no Sesc vila mariana termina no dia 29 de setembro, mas esse espetáculo tem que continuar em cartaz na capital paulista e viajar pelo Brasil, para que mais espectadores tenham a oportunidade de conferir, se emocionar e refletir.
Ficha técnica / Serviço
Texto Philip Ridley |Tradução e direção geral Darson Ribeiro | Elenco: Sandra Corveloni (Anita, especialmente convidada) e Thalles Cabral (Davey). Fotografia Eliana Souza | Designer Gráfico Iago Sartini | Assessoria de imprensa Eliane Verbena | Assessoria jurídica Bottini & Tamasauskas Advogados | Visagismo Claudio Germano | Cenografia, trilha e figurino Darson Ribeiro (o ator veste Ricardo Almeida e Antrato) | Desenho de luz Darson Ribeiro | Assistente de Direção Roberto Novelli (estagiário João Marcos Costa)| Assistente de iluminação Tulio Pezzoni | Cenotecnia Heron Medeiros | Operação de luz e som Douglas Fernando | Costureiras Benê Calistro e Nildes Almeida | Edição de som Lalá Moreira | Administração Geondes Antônio | Armazenamento e logística Personnalite Transportes & Mudanças | Idealização e produção Dr Produções | Realização Sesc SP.
Temporada: 17/8 a 29/9 – Sextas, às 20h30, e sábados, às 18h
Duração: 90 minutos. Gênero: Drama. Classificação: 12 anos.
Ingressos: R$ 20,00 (inteira). R$ 10,00 (estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência). R$ 6,00 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes)
Bilheteria: Terça a sexta-feira (9h - 21h30); sábado (10h - 21h); domingo e feriado (10h - 18h30) - ingressos à venda nas unidades do Sesc e no portal.
Local: Auditório (128 lugares).
Sesc Vila Mariana
Rua Pelotas, 141, São Paulo - SP
Telefone: 5080-3000
Estacionamento: R$ 5,50 + R$ 2,00 a hora adicional (Credencial Plena) e R$ 12,00 + R$ 3,00 a hora adicional (outros). 130 vagas.
sescsp.org.br/vilamariana
Facebook, Twitter e Instagram: /sescvilamariana
|