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Críticas - Teatro Adulto

Rainhas do Orinoco - A peça, com direção de Gabriel Villela, fala das agruras de duas artistas com muita cor, poesia, música e um elenco de muito talento formado por Walderez de Barros, Luciana Carnieli e Dagoberto Feliz
Publicado em 20/05/2016, 01:00
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Desde a primeira vez em que tive a oportunidade de assistir a um espetáculo do diretor Gabriel Villela (O Concílio do Amor), o que me chamou a atenção foi a sua criatividade e mistura de cores.

Segundo o diretor, em Rainhas do Orinoco ele recupera o auge do circo-teatro nos anos 60, com uma musicalidade e um visual que valorizam a cultura popular.

Uma encenação que traz muitos elementos de Vem buscar-me que ainda sou teu, de Carlos Alberto Soffredini, que foi um dos grandes sucessos de sua carreira.

Gabriel também já dirigiu peças que saíram um pouco desse universo, mas sem deixar de lado a busca de um teatro que promova a emoção.

O universo de sua terra, Minas Gerais, é a principal inspiração e o diretor deixa a sua criatividade aflorar através de cenas que levam para o palco o onírico e um humor genuíno que ressalta o caráter poético de suas realizações.

Rainhas do Orinoco é uma alegoria da vida dos artistas e das dificuldades de se viver nos confins da América Latina (grotões, como se diz na peça).

Neste sentido, o texto do mexicano Emílio Carballido traz a metáfora da América Latina e de como é complicado sobreviver da arte.

A peça fala das mazelas do teatro e da vida mambembe, que também traz alegrias, claro, mas mostra como a necessidade do ganha pão de cada dia faz com que a esperança de dias melhores fique sufocada.

Nem sempre podemos mudar o nosso destino e o único jeito de não deixar o desespero nos derrotar é aceitar o curso da vida, deixar o barco correr.

Ter o pé no chão é importante, mas às vezes a capacidade de imaginação pode deixar as barreiras da vida mais suportáveis.

Na trama, duas atrizes decadentes, Mina (Walderez de Barros) e Fifi (Luciana Carnieli), estão navegando pelo Rio Orinoco, a caminho de um show para entreter trabalhadores de um campo petroleiro. Elas creditam que irão ganhar um bom dinheiro, mas Mina faz uma revelação que mostra que o trabalho não é glamoroso (como Fifi imaginava).

Para piorar a situação, elas descobrem que toda a tripulação do barco, menos um homem esfaqueado (Dagoberto Feliz), desapareceu.


A bela, fogosa e jovem Fifi é otimista e traz uma pureza de quem procura ver somente o lado positivo das coisas, enquanto que a sua companheira de viagem e de trabalho, Mina, é mais velha, experiente e não consegue compartilhar a mesma visão otimista da amiga. Trazem visões diferenciadas, mas têm em comum o amor pela arte.

O futuro dessas atrizes não é promissor e elas nunca conseguiram um reconhecimento que lhes garantisse um retorno financeiro.

Com delicadeza e poesia, o diretor ameniza a tragédia vivida pelas personagens e ressalta a importância do sonho para guiar uma trajetória pautada pela luta diária pela sobrevivência, mas que também garante um lugar para a magia e o desejo.

Para a concepção da montagem, Gabriel Villela bebeu na fonte do universo fantástico do escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez e resgata a sua visão sobre a América Latina.

Caballido também lança mão desse artifício literário nas suas criações, evidenciando, assim, a dualidade sonho/realidade presente na trajetória das personagens.

A estética do circo-teatro, como já foi citado, é a linha mestra que rege esse espetáculo, num embate entre a vida imaginária perfeita e a realidade nem sempre animadora.

Os elementos cênicos que delimitam a ação são recheados de cor, luz, música, melodrama e humor.

Cenários e figurinos são inspirados nas cores e texturas da América Latina e causa deslumbre tamanha é a riqueza de detalhes e significados de cada objeto.

No cenário, assinado por Willian Pereira, com a contribuição primorosa de José Rosa e Maria do Carmo Soares, registro um destaque para o barco Stella Maris, que ocupa o palco no primeiro ato.

Shicó do Mamulengo, artista plástico e parceiro de Villela em diversas montagens, merece ser citado pela linda boca de cena (intitulada ¨Boca de Cena Equatorial¨, que traz elementos da fauna e flora, evoca a importância dos índios na nossa formação e lembra as cortinas dos teatros mambembes e cabarés que iluminam o mundão afora).

No figurino, as cores também são exuberantes e os detalhes minuciosos e mimosos ressaltam o caráter poético da encenação. Parece que estamos visualizando uma pintura que está colocada num altar muito especial.

A trilha sonora é sempre marcante nas direções de Villela. As canções da América Latina, cantadas na voz de Cascatinha e Inhana, ganham vida nas vozes de Walderez e Luciana Carnieli.

Dagoberto Feliz é o responsável pela execução das músicas e também ocupa diversos papéis no decorrer da apresentação.
Walderez e Luciana transmitem um relicário de emoções, com interpretações impecáveis nas entonações de voz, nos gestos e movimentações. São duas excelentes profissionais, que mergulham de corpo e alma nas nuances de suas personagens.

As atrizes conseguem dar o tom perfeito de comédia e estão em ótima sintonia, com graciosidade e carisma, sem deixar que a encenação perca o dinamismo.

Nas palavras de Villela, ¨a peça é um depoimento humanista de alguém que enxerga através da comédia e do melodrama a existência de dois seres humanos desprotegidos na carne e nos grotões da América Latina”. O diretor tem a sensibilidade de conseguir transpor para a cena a situação angustiante das personagens e ao mesmo tempo oferecer ao público uma encenação que prima pela magia.

Do início ao fim, o público é brindado com cenas inventivas e lúdicas. Uma simples caixinha ganha diversas funções no decorrer da encenação e isso acontece com outros diversos objetos, como fitas, chapéus e bexigas.

O final do espetáculo é de uma delicadeza que impressiona. Através de um ritual simbólico e cheio de sensibilidade, Villela transforma um momento triste em sublime poesia, com referências ao imaginário religioso do povo, seja ele latino, brasileiro ou especialmente mineiro.

Nesses dias tenebrosos, sobretudo na área política, só mesmo a arte para deixar os nossos dias mais proveitosos e animados.

Quer ir e se encantar no teatro? Corre para o Vivo e assista Rainhas do Orinoco. Mais uma peça do programa Vivo Encena que merece muitos aplausos (e casa cheia).

Rainhas do Orinoco traz o talento de um diretor, mas vale ressaltar que toda a equipe técnica e criativa contribui para que a produção seja impecável. Villela sempre faz questão de ressaltar a qualidade de todos que trabalham com ele nos seus espetáculos.


Obs: Coloquei em críticas, mas ressalta que são observações de quem acompanha a carreira do Gabriel desde o início e vê o seu trabalho como a realização de um artista que valoriza a nossa cultura, sobretudo interiorana mineira, e sempre conta com artistas competentes no elenco e equipe técnica.


Ficha Técnica
Texto: Emilio Carballido
Tradução: Hugo de Villavicenzio
Direção: Gabriel Villela
Elenco: Walderez de Barros, Luciana Carnieli e Dagoberto Feliz
Figurino: Gabriel Villela
Bordados: Giovanna Vilela
Adereços e objetos de arte: Shicó do Mamulengo
Cenografia: William Pereira
Assistentes de arte e adereços: Maria do Carmo Soares e Clau Carmo

Costureiras: Zilda Peres e Cleide Mazzacapa Hissa
Maquiagem: Claudinei Hidalgo
Coordenação de arte do ateliê: José Rosa
Arranjos Instrumentais: Dagoberto Feliz
Direção Musical: Babaya
Trilha Sonora: Babaya e Dagoberto Feliz
Iluminação: Caetano Vilela
Assistentes de direção: Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo
Foto de João Caldas
Produção Executiva: Luiz Alex Tasso
Direção de Produção: Claudio Fontana
Patrocínio: Vivo e 2S Inovações Tecnológicas

Serviço:
Duração: 90 min. Onde: Teatro VIVO: Av Dr Chucri Zaidan, 2460, Morumbi - telefone:(11) 974201529. Temporada: Sextas às 21h30, sábados às 21h00 e domingos às 18h00. Ingresso: R$ 50 (sex), R$ 50 a 80 (sáb e dom). Classificação 14 anos. Estreia 13/05. Até 3 de julho.
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DE OLHO NA CENA BY NANDA ROVERE - TUDO SOBRE TEATRO, CINEMA, SHOWS E EVENTOS Sou historiadora e jornalista, apaixonada por nossa cultura, especialmente pelo teatro.Na minha opinião, a arte pode melhorar, e muito, o mundo em que vivemos e muitos artistas trabalham com esse objetivo. de olho na cena, nanda rovere, chananda rovere, estreias de teatro são Paulo, estreias de teatro sp, criticas sobre teatro, criticas sobre teatro adulto, criticas sobre teatro infantil, estreias de teatro infantil sp, teatro em sp, teatros em sp, cultura sp, o que fazer em são Paulo, conhecendo o teatro, matérias sobre teatro, teatro adulto, teatro infantil, shows em sp, eventos em sp, teatros em cartaz em sp, teatros em cartaz na capital, teatros em cartaz, teatros em são Paulo, teatro zona sul sp, teatro zona leste sp, teatro zona oeste sp, nanda roveri,

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