O espírito contestador da obra de Oswald continua vivo. A peça foi escrita em 1933 ou hoje?! Essa pergunta vem à tona após assistir ao espetáculo, mediante a história que traz um assunto extremamente atual.
Oswald escreveu O Rei da Vela num período de segunda guerra, imperialismo americano, crise do café e ascensão dos burgueses empresários e que só conseguem enxergar $$$. Vale tudo para a conquista do poder.
Na trama, que muito se parece com o que vivemos hoje: O desejo pelo poder e pelo dinheiro faz muita gente cometer atrocidades. A sociedade, mesmo decadente, esbanja soberba. A hipocrisia emana de uma maneira vergonhosa dos políticos e empresários. Uma sociedade aparentemente nobre, esconde, na verdade, a podridão de quem se sente superior. Os desejos estão à flor da pele e eles são enrustidos. O amor está em segundo plano porque as relações são tecidas a partir de interesses diversos.
Abelardo I é empresário, agiota e comete atrocidades; quem não paga dívidas é preso como um animal. O povo é inferior e merece ser explorado. A supremacia de Abelardo I não é eterna porque ele convive com pessoas sem escrúpulos e é passado para trás. O homem forte enquanto rico, se acovarda diante da pobreza. Típico de um ser humano que além de bandido, é estúpido e vazio.
Uma história que está mais acesa do que nunca. O tempo passa e o ser humano continua digno de lástima. A ganância impera na política e na economia de uma maneira avassaladora.
Zé Celso não criou nova concepção cênica para O Rei da Vela, mas muitas falas foram adaptadas para os dias sombrios de hoje. O espírito transgressor, tropicalista e antropofágico está vivo nessa montagem que é mais uma vez antológica.
Criatividade, luz, cor, o espírito festivo do Oficina (sobretudo na cena de Yes, nós temos bananas), elenco excelente, crítica social e política do início ao fim. O Rei da Vela é tudo isso, e muito mais!
O cenário circulante foi destaque há 50 anos e continua merecendo atenção, pois é essencial para dar vitalidade às cenas.
Nada mais oportuno do que comemorar os 50 anos da estreia de O Rei da Vela com a união entre Zé e Renato Borghi, e a presença de um elenco que traz artistas que integram ou integraram o Teatro Oficina/ Uzina Ozona. Atores que merecem muitos aplausos pela atuação. Além de Borghi e Zé Celso, Marcelo Drummond, Sylvia Prado, Camila Mota, Tulio Starling, Ricardo Bittencourt, Regina França, Roderick Himeros, Elcio Nogueira Seixas, Joana Medeiros, Daniele Rosa, Tony Reis .
Borghi interpretou o protagonista Abelardo I em 1967 e agora brilha com o mesmo personagem. Um presente para o nosso teatro, para o espectador.
Aos 80 anos, Renato mostra um vigor que emociona, a sua entrega é de corpo e alma, brilhante! Ele sempre viveu para o teatro e é nítido que ele tem muito prazer em interpretar um personagem tão importante dentro da sua carreira.
Zé e Renato, 80 anos de vida. Criadores do Teatro Oficina e que continuam realizando um trabalho que instiga o espectador a pensar sobre o mundo em que vivemos.
Se você gosta de teatro, uma recomendação: Corre para o Sesc Pinheiros. A temporada termina dia 19/11 e as sessões acontecem somente aos sábados e domingos. O Sesc Pinheiros está lotando e não dá para perder!
A estreia de O Rei da Vela aconteceu e o Silvio Santos acabou de ganhar na justiça a permissão para construir o seu grande empreendimento comercial no Bixiga. O fato mostra o quanto o texto é atual.
A supremacia do poder econômico vence o valor histórico e artístico do teatro Oficina. O prédio sede do Oficina é tombado e a construção vai prejudicar a arquitetura do teatro, que foi projetado para que o entorno do local ficasse integrado ao seu espaço interno. A construção do shopping e dos prédios irá descaracterizar o projeto da arquiteta mundialmente conhecida e respeitada.
Se você acredita que a construção precisa ser barrada, assine:
https://secure.avaaz.org/…/Geraldo_Alckmin_secretario_Jos…/…
ESPETÁCULO MEMORÁVEL!
Ficha Técnica:
Texto - Oswald de Andrade
Diretor - Zé Celso
Conselheira poeta - Catherine Hirsh
Elenco Renato Borghi, Marcelo Drummond, Sylvia Prado, Camila Mota, Tulio Starling, Ricardo Bittencourt, Regina França, Roderick Himeros, Elcio Nogueira Seixas, Joana Medeiros, Daniele Rosa, Tony Reis e Zé Celso.
Ponto - Nash Laila
Canção de Jujuba - letra de Oswald de Andrade e música de Caetano Veloso
Diretor de arte - Hélio Eichbauer
Arquitetura cênica - Carila Matzenbacher E Marilia Gallmeister
Diretor de cena - Otto Barros
Criador do bonecão Abelardo I - Ricardo Costa
Criadora da cobra de Abelardo I - Lala Martinez Corrêa
Pintura artística - Vicent Guilnoto
Figurinista - Gabriela Campos
Maquiadora - Beatriz Sergio de Barros
Iluminador - Beto Bruel
Sonoplasta - Andréia Regeni
Diretora de produção - Ana Rubia Melo
Produtor executivo e administrador - Anderson Puchetti
Ilustrações de cenários e figurinos - Hélio Eichbauer
Sesc Pinheiros Teatro Paulo Autran
Sábados 19h00 Domingos 18h00
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