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Entrevistas e dicas de espetáculos

O dramaturgo Alexandre Dal Farra e a atriz Janaina Leite falam sobre a criação do espetáculo Teorema 21 e sobre a trajetória do Grupo XIX
Publicado em 16/01/2016, 10:00
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O Grupo XIX de Teatro engata nova temporada do espetáculo Teorema 21 a partir de 13 de março, domingo, às 17h00. Os ingressos custam R$40 e R$20 (meia entrada) e podem ser adquiridos pelo site http://www.sympla.com.br/grupoxixdeteatro. As sessões acontecem aos sábados e domingos, às 17h00, até 1º de maio (exceto sábado, dia 12, que não tem sessão).
Vila Maria Zélia - Rua Mário Costa 13 (Entre as ruas Cachoeira e dos Prazeres) – Belém. Telefone – (11) 2081-4647. Acesso para deficientes físicos. Informações e reservas, de terça a sexta-feira das 14 às 18h00. Estacionamento gratuito.


Grupo XIX de Teatro estreia Teorema 21, espetáculo inspirado em obra do cineasta, escritor e poeta italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975)
O projeto, que teve início em 2015 (ano dos 40 anos da morte do artista italiano), é livremente inspirado na obra Teorema 21, que faz duras críticas ao consumismo.

A direção é de Luiz Fernando Marques (Lubi) e a dramaturgia é de Alexandre Dal Farra, que assinam a quarta parceria. Lubi e Dal Farra trabalharam juntos, nas revisões do texto e na experimentação das cenas.

A atriz Janaina Leite assumiu a função de dramaturgista.e os demais atores também participaram do processo criativo, exercendo funções como a criação dos figurinos (Juliana Sanches) e do cenário (Rodolfo Amorim).

Na trama, uma família retorna ao seu antigo lar e busca encontrar novas possibilidades de existência e convivência. A chegada de um estrangeiro pode mudar a vida estagnada dessa família. O cenário é uma antiga escola de meninas, em ruínas.

As sessões acontecem de sexta a domingos, às 18h00, com entrada franca.

Sobre o Grupo XIX de Teatro
O grupo XIX de teatro tem um trabalho contínuo de 14 anos, com pesquisa temática focada na história brasileira e encenações que ocupam prédios históricos.

O grupo montou 5 espetáculos com dramaturgia inédita – todos em repertório até hoje - Hysteria, Hygiene, Arrufos, Marcha para Zenturo (em parceria com o Grupo Espanca), Nada aconteceu, Tudo Acontece, Tudo Está Acontecendo e Estrada do Sul (em parceria com o Teatro dell’argine, da Itália).

Desde 2004, realiza residência artística, na tombada Vila Operária Maria Zélia, no Belém, em São Paulo.
Uma vez por mês o XIX promove a ¨Domingueira 19¨, um evento que reúne shows, peças de teatro e exposições, com programação é gratuita e aberta ao público em geral.

ENTREVISTA

Nanda Rovere : Como surgiu a ideia de trabalhar com a obra do Pasolini e qual a importância de mergulhar na sua obra nos dias de hoje
Janaina Leite: Eu tinha o livro do Teorema guardado há anos, esperando um momento para tentar trazer a história para o teatro. Primeiro, orientei um núcleo de pesquisa no XIX chamado “Aquele que vem de fora” para colocar à prova o material e ver se isso “dava teatro”. E depois propus a ideia para o resto do grupo. O projeto foi muito bem recebido por todos. Pasolini é um dos maiores artistas do século XX, um pensador do seu tempo que não fazia nenhum tipo de concessão.

NR: O que mais chama a atenção na obra do artista? Qual a relação da trama de Teorema 21 com o mundo atual?
Janaina: O Teorema de Pasolini, a versão literária, impressiona pela estrutura, pelo olhar agudo do narrador que disseca suas personagens como sapos num laboratório. Ele brinca com uma espécie de narrador naturalista que descreve o universo burguês de forma quase científica ou matemática. Ele cria um “teorema” para provar sua tese em relação à burguesia daquela época. Um olhar extremamente crítico e pessimista segundo o qual o capitalismo e o consumismo terminaria por igualar toda a humanidade ao homem burguês. É interessante pensar, 50 anos depois, o que está significando para o Brasil tornar-se uma nação de consumidores.

NR: Quais aspectos da obra Teorema do Pasolini estão presentes nesse trabalho e o que a dramaturgia trouxe de inovação?
Janaina: Mantivemos a estrutura fabular de uma família da alta burguesia que recebe a visita de um estranho. Mas não se trata mais daquele ambiente moral proposto por Pasolini em que a família era a guardiã dessa moralidade. Tomamos a família hoje como uma alegoria do próprio capital. Essa é uma das propostas fundamentais da dramaturgia que o Dal Farra construiu. A outra inversão decisiva é em relação ao hóspede e a relação que ele estabelece com as personagens. Em Pasolini, temos uma desagregação desse ambiente moral pelo sexo. Em Teorema 21 nos perguntamos se era ainda o sexo esse elemento capaz de perturbar e concluímos que não. Testamos então outros elementos de perturbação.

NR: Fale um pouco como o autor trata a relação entre o capital e a ideologia e qual seria um possível teorema para os tempos atuais?
Alexandre Dal Farra: Para mim a peça trata de uma hipótese sobre a atualidade: a do fim da ideologia. E se pensássemos que a ideologia simplesmente não precisa mais existir? Estou falando na ideologia em termos marxistas, ou seja, enquanto aquele conjunto de ideias, convicções, crenças, que servem, grosso modo, para tornar um mundo aceitável, quando ele é absolutamente inaceitável, ou seja, o conjunto de ideias, crenças que servem para justificar o capital. Mas e se, por hipótese, pensássemos que a ideologia simplesmente não existisse mais (sem no entanto fazer com que, por isso, o inaceitável da dinâmica que vivemos se interrompesse por isso)? A que tipo de relação isso levaria? Que paralelos percebemos entre esse tipo de olhar amoral para as coisas e a nossa realidade? Em que medida a ideologia ainda é necessária?

NR: Como o Cinema e a literatura se unem à linguagem teatral nesse espetáculo?
Janaina Leite: A peça é inspirada tanto no filme, quanto no livro do Pasolini, que tem o mesmo título. O peculiar no caso é que Pasolini, ao que parece, fez o filme antes de fazer o livro, ao contrário do que é mais comum de se ver. A genialidade do Pasolini tem a ver também com o trânsito entre as linguagens respeitando o potencial de cada uma. No nosso caso, tentamos, ao contrário de uma “adaptação” clássica, nos refazer todas as perguntas, tanto as temáticas, quanto as que dizem respeito à linguagem. Ou seja, qual seria o interesse do material do ponto de vista estritamente teatral. Ou, o que a linguagem do teatro teria para oferecer, ainda, para esta história? A primeira investida foi sem dúvida dramatúrgica e o Dal Farra deu uma dimensão dialógica à fabula que não existe nem no filme nem no livro. E depois vieram todos os aspectos da encenação. Vocês verão que o lugar do público é, por exemplo, central na nossa encenação assim como o espaço.

NR: E a parceria de quatro anos entre diretor e dramaturgo? Como é essa relação, especialmente nessa montagem, que teve a participação da atriz Janaina Leite como dramaturgista?
Alexandre: O Lubi é com certeza o meu parceiro principal fora do Tablado atualmente, juntamente com a Janaina Leite. No caso do Teorema, posso dizer que tenho a impressão de ser o trabalho em que mais existe um encontro entre o meu trabalho como dramaturgo e o trabalho do Lubi e também do XIX como um todo. Com certeza, a parceria com o Lubi para mim é um prazer imenso, porque temos habilidades muito diversas. E o lugar da Jana, nesse caso, como idealizadora e dramaturgista, foi crucial para que tanto eu quanto Lubi nos colocássemos de forma potente, cada um na sua seara.

NR: Como delimitar os limites de cada um na criação dos espetáculos, já que todos têm funções definidas e também opinam no processo de criação?
Alexandre: Diferentemente do que ocorreu em Nada acontece..., neste caso, o texto foi escrito por mim de maneira bem mais independente. Isso se aproxima um pouco mais da maioria dos meus processos de escrita, e se distancia um pouco mais dos processos de criação do grupo, me parece. Para mim foi muito interessante a tentativa de tentar ver quais as possibilidades que eu tinha para propor como um olhar para o tema que eles me propuseram, e que muito me interessava. E essa liberdade para lidar com um tema que é de outro me parece uma escolha radical, porque pressupõe sempre uma abertura para que aquilo que imaginamos de um jeito possa se tornar uma outra coisa, sem deixar de ser o mesmo processo de criação.

NR: Vocês recebem na sede do grupo outros artistas para temporada e troca de experiências, além disso, estão realizando com sucesso as ¨Domingueiras¨. Qual a importância desse intercâmbio para a trajetória do XIX?
Janaina: Desde a nossa entrada na Vila Zélia, o grupo passou a assumir esse papel de um mediador cultural. Não era possível ocupar um patrimônio histórico desse porte e ignorar essa vocação cultural do espaço. Desde então começamos a fomentar diversas ações que, por um lado, alimentam criativamente o próprio grupo, por outro, tem a função de democratizar o uso desses espaços.

NR: Como está a relação do grupo com a Vila Maria Zélia e dos moradores da Vila com o grupo? Como é realizar uma residência artística nesse belíssimo Patrimônio Histórico?
Janaina: É uma relação que necessita de muita atenção e cuidado. Não é simples. Tem projetos que conseguimos integrar mais facilmente os moradores, outros, em que ficamos mais distantes. A Vila funciona como um microcosmo da cidade como um todo. O interesse por arte e cultura é algo que é fomentado a duras penas. Mas sem dúvida, nesses anos, tivemos muito sucesso em abrir a vila para São Paulo e revelar aos moradores o potencial público de um patrimônio dessa dimensão.

NR: Em dezembro vocês pediram ajuda para a reforma do telhado do Armazém. Como está a situação do local? Como as pessoas podem contribuir?
Janaina: A situação é muito complicada. A ponto de inviabilizar as temporadas e outras atividades no local. Fora os danos aos materiais, equipamentos e figurino. A situação é urgente mesmo! Não existe nenhuma medida por parte dos órgãos públicos para solucionar o problema então tivemos que pedir ajuda à sociedade. Trata-se de um custo de reparos de 55mil reais e obviamente um grupo de teatro não tem orçamento para isso. Entramos então numa dessas campanhas de financiamento coletivo. Para quem quiser contribuir é só entrar no link https://www.vakinha.com.br/vaquinha/telhado-para-o-grupo-xix-de-teatro

Ficha Técnica:
Realização Grupo XIX de Teatro.
Dramaturgia Alexandre Dal Farra.
Direção Luiz Fernando Marques. Dramaturgismo Janaina Leite.
Atuação Bruna Betito, Emilene Gutierrez, Janaina Leite, Juliana Sanches, Paulo Celestino, Rodolfo Amorim e Ronaldo Serruya.
Produção Executiva Vanessa Candela. Cenografia Luiz Fernando Marques e Rodolfo Amorim.
Figurinos Juliana Sanches.
Contra-regra Luciano Morgado.
Assistência de Produção Marilia Novaes.
Assistência de Figurino e adereços Gabriela Costa.
Provocadores do processo Eleonora Fabião, Marcelo Caetano, Miwa Yanagizawa, Luis Fuganti e Bruno Jorge.
Preparação Corporal (parkour) Diogo Granato.
Assessoria de Imprensa Adriana Balsanelli.
Produtor de Conteúdo Midias Sociais Jonatas Marques. Site - www.grupoxix.com.br
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DE OLHO NA CENA BY NANDA ROVERE - TUDO SOBRE TEATRO, CINEMA, SHOWS E EVENTOS Sou historiadora e jornalista, apaixonada por nossa cultura, especialmente pelo teatro.Na minha opinião, a arte pode melhorar, e muito, o mundo em que vivemos e muitos artistas trabalham com esse objetivo. de olho na cena, nanda rovere, chananda rovere, estreias de teatro são Paulo, estreias de teatro sp, criticas sobre teatro, criticas sobre teatro adulto, criticas sobre teatro infantil, estreias de teatro infantil sp, teatro em sp, teatros em sp, cultura sp, o que fazer em são Paulo, conhecendo o teatro, matérias sobre teatro, teatro adulto, teatro infantil, shows em sp, eventos em sp, teatros em cartaz em sp, teatros em cartaz na capital, teatros em cartaz, teatros em são Paulo, teatro zona sul sp, teatro zona leste sp, teatro zona oeste sp, nanda roveri,

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