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Entrevistas e dicas de espetáculos

Entrevista com Ivan Andrade - Dirige a atriz Maristela Chelala no monólogo Dos Prazeres
Publicado em 03/02/2020, 12:00
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O diretor Ivan Andrade que dirigiu O mal-entendido, de Albert Camus (2018); Amigos Ausentes, de Alan Ayckbourn (2008) e Entreatos, de Gero Camilo (2005), e trabalhou como Diretor Assistente em vários espetáculos assinados por Gabriel Villela (entre outras realizações com Zé Celso, Cibele Forjaz, Gerald Thomas e artistas estrangeiros), dirige a atriz Maristela Chelala no excelente monólogo Dos Prazeres.

A peça leva para o palco o universo do escritor Gabriel García Márquez, com história baseada na vida da própria atriz e no conto Maria dos Prazeres do livro Doze Contos Peregrinos (1992).

Dos Prazeres fala de amor, prazer, sonhos e desilusões, e aborda a opressão vivida por Maria dos Prazeres, uma imigrante brasileira que viveu em Barcelona e prepara o seu próprio funeral. Solitária, ela conta somente com a companhia de seu cãozinho Nói.

Ela revive o seu passado através de momentos delicados e de forte dramaticidade, já que ela sofreu com o cenário da Espanha franquista.

Além de viver Maria dos Prazeres, a atriz é a narradora do conto e traz para o público alguns dados de sua vida que são comuns ao da personagem ( como o medo da água e ser migrante) Maristela vive também um agente funerário, um amigo aristocrático e o chofer de uma limusine que oferece uma carona e muda o rumo da vida de Prazeres.

Na entrevista para o De Olho Na Cena, Ivan fala sobre a sua formação e trajetória, a sua experiência como diretor e diretor assistente (Gabriel Villela foi com quem mais trabalhou), a experiência de levar para o palco obras de Albert Camus, num projeto pessoal e como assistente de Villela (O Mal-Entendido e Estado de Sítio, respectivamente) e, claro, sobre Dos Prazeres

No momento, Ivan está em Campinas com o diretor Gabriel Villela preparando um novo espetáculo, parceria com o grupo Os Geraldos. Oportunamente publicarei informações detalhadas no De olho Na Cena.


ENTREVISTA IVAN ANDRADE

Nanda Rovere – De Olho Na Cena - Gostaria que falasse um pouco sobre a sua trajetória profissional.
Ivan Andrade - Eu comecei fazendo teatro amador aos treze anos e depois estudei Direção na ECA/USP e lá tive aulas com grandes professores de teoria e prática; tive aula com o Antonio Araujo, por exemplo. Saindo da USP, ao contrário de montar um grupo de teatro, comecei a trabalhar como assistente de direção. Trabalhei no Teatro Oficina como assistente do Zé Celso, depois fiz uma sequencia de assistências, sempre com grandes diretores: Ivaldo Bertazzo, Gerald Thomas e depois participei de muitas produções internacionais ( com Ziya Azaia, Bob Wilson, grupos alemães, grupos japoneses). A maioria das produções foram realizadas no Brasil e pelo SESC, mas viajei também ao exterior algumas vezes. Eu queria ter experiência com diferentes estéticas e propostas até dirigir os meus próprios espetáculos, mas logo em seguida o Gabriel (Villela) me chamou para ser assistente dele (em Vestido de Noiva) e já são dez anos de parceria.

NR - O que você carrega de aprendizado com todas essas parcerias?
IA - De todas essas parcerias ficaram experiências positivas e também negativas. Com muitos diretores eu aprendi como eu não quero trabalhar e trago influências de todos eles. Com relação ao Gabriel, que é o único diretor com quem eu venho trabalhando há muitos anos, ficaram muitas coisas, desde a parte estética, a convivência no trabalho até a relação com a produção. Com relação à estética, as influências podem não ser muito perceptíveis para o espectador, porque Gabriel é conhecido pelo barroco e pelo épico, convenções estéticas que não são as minhas, mas não elas deixam de estar presentes no meu modo de dirigir .

NR - É nítido que existe um olhar do diretor para todos os elementos da cena (característica marcante nos trabalhos do Gabriel Villela e que você carrega nos projetos pessoais), com a formação, claro, de uma excelente equipe técnica/de criação.
IA - A equipe surgiu a partir do encontro de pessoas com as quais já tínhamos trabalhado e temos afinidade. Esse olhar é uma influência do Gabriel e também de vários outros diretores dos quais fui assistente. Eu sou um diretor que atua em todas as frentes, cuidando desde a crase do programa, até a operação de luz. Eu fico em cima de tudo e sempre venho em todas as sessões. A minha formação foi assim (assistindo a todos os espetáculos, dialogando com toda a equipe).

NR - E você é um diretor que muda alguma coisa no espetáculo mesmo após a estreia, já que gosta de assistir a todas as sessões?
IA – Eu mexo, ajusto alguns detalhes, mas sempre respeitando a concepção original para não desrespeitar o acordo que já estabeleci com a minha equipe.

NR - E como é voltar a dirigir a Maristela?
IA - Dirigi a Maristela em 2008 num espetáculo que fiz no Cultura Inglesa, depois trabalhamos juntos no em Galileu Galilei com direção da Cibele Forjaz, e desde então queríamos fazer alguma coisa juntos. No ano passado decidimos trazer para o palco o conto do Gabriel Garcia Marquez e está sendo um prazer muito grande. Ela é uma excelente atriz, uma pessoa interessante, uma amiga que tem um olhar peculiar sobre o teatro e sobre o fazer teatral. Um encontro muito feliz fora de uma produção maior; um encontro generoso das duas partes.

NR - Como foi colocar em cena a mistura entre a vida pessoal da atriz e o universo de Gabriel Garcia Marquez?
IA - Quando eu e a Maristela começamos a conversar, eu disse a ela que não gostaria de dirigir nem monólogo nem depoimento pessoal. Toparia fazer esse espetáculo somente se ele valorizasse a obra do Gabriel Garcia Marquez, não a sua história de vida. Aos poucos fomos costurando o texto e a idéia era preservar a teatralidade, mostrando que nem tudo é realidade no depoimento, que existe uma personagem e assim recriamos a história da Maristela. Uma auto-ficção submetida à narrativa do Gabriel Garcia Marquez.

NR - Quando você pensa nesse espetáculo, o que primeiro bem em mente?
IA – O que eu primeiro penso é na possibilidade da continuidade desse espetáculo após a temporada no SESC Vila Mariana. Hoje em dia está muito difícil produzir teatro e ao dirigir um monólogo em que a própria atriz tem tanto prazer em fazê-lo, não tem como não pensar numa longa duração.

NR - E como foi experiência de dirigir um monólogo, já que desde o início você estabeleceu algumas ressalvas para aceitar o desafio?
IA – Uma das minhas satisfações é ouvir as pessoas dizendo que não parece um monólogo porque ela parece que não está sozinha em cena. Estou feliz por ter encontrado um equilíbrio tênue entre o elemento pessoal, a ficção e a obra de Gabriel Marquez.



NR - E como é o seu processo de criação. Você já tem a concepção pronta na sua cabeça ou você constrói com os atores?

IA – Eu faço um pouco dos dois. Eu já chego com uma concepção e fico em cima até os atores entenderem o caminho de criação que eu estabeleci (entenderem qual é a linguagem), depois os deixo mais à vontade e dialogo com eles.

NR - E a parceria com o SESC, qual a importância nesses dias tão complicados?
IA – O SESC é uma instituição muito aberta para espetáculos não comerciais porque tem compromisso com a profundidade cultural . Sabemos que a cultura está num momento dificílimo e mais do que nunca o SESC se apresenta como um oásis num momento em que a cultura está sob ameaça (ao tratarem a cultura com truculência, estão destruindo o próprio país). A incompreensão existente com relação ao trabalho realizado pelo SESC é lamentável porque existe uma formação do cidadão que é impressionante. O SESC é uma esperança de civilidade, e neste sentido é um orgulho estar em cartaz nessa Instituição. Mesmo um teatro pequeno tem público. As pessoas têm fome de cultura.

NR - Você dirigiu um texto do Camus, o Mal-entendido, e foi assistente do Gabriel em Estado de Sítio, também uma obra desse autor. Como foi essa experiência?
IA – Foi uma grande coincidência. Eu já tinha apresentado o projeto ao SESC e quando ele foi aprovado, Gabriel veio falar comigo e disse que gostaria de montar Camus. O autor tem todo um trabalho filosófico e critico que é urgente para hoje. Nas suas obras existe a idéia do homem que se revolta contra a existência e a política social, mas tem limites éticos nas suas ações. Outra questão de Camus é o sísifo ( o mito do homem que carrega uma pedra morro acima para vê-la rolar e começar tudo de novo.). Como ele termina no livro: ¨É preciso imaginar o Sísifo feliz¨, ou seja, é nosso trabalho existencial começar tudo de novo. O que ele está falando é que a esperança morreu; e a maior beleza do Camus é dizer que temos que trabalhar e trabalhar por um mundo melhor porque é pra isso que existimos, mas o mundo nunca será definitivamente melhor porque sempre terá o que melhorar. E é o papel da cultura é o mesmo ( trabalhar por um mundo melhor). Estado de Sítio abordava de um modo positivo a existência e O Mal-Entendido expõe o lado negativo da humanidade. Em O Mal-Entendido, a revolta da mulher contra a sua condição gera a destruição; no Estado de Sítio existe esperança (depois de vencer a Grande Peste, a sociedade renasce através do amor). Esses contrapontos nos nossos trabalhos eram muito bons, mas as peças tinham uma discussão em comum: falavam sobre o amor, que é o responsável pela continuidade da nossa vida. E não é à toa que Dos Prazeres fala do mesmo assunto: Uma pessoa que está em vias de morrer e tem um encontro amoroso que muda o rumo da sua vida, é um encontro com o prazer, é estar vivo a despeito da morte social. ...É o que estamos passando hoje: precisamos continuar vivos ¨sísificamente¨, isto é carregando a pedra. A sociedade está a cada dia mais estúpida, mas é preciso continuar. Se no Mal-Entendido a minha maior motivação era o amor, agora a minha maior motivação é o prazer, a libido de viver (de seguir adiante).


Serviço:
Dos Prazeres
"Quero um lugar onde as águas não cheguem nunca."
Sinopse
María dos Prazeres é uma brasileira nascida em Manaus que vive há décadas em Barcelona. Aos 76 anos, esta personagem do conto homônimo de Gabriel García Márquez tem um sonho que interpreta como o anúncio de sua morte e dá início aos preparativos de seu próprio funeral. Ambientada na Espanha franquista, a narrativa é conduzida pela atriz Maristela Chelala num jogo de espelhos em que sua biografia se entrelaça à ficção.
Sesc Vila Mariana. Auditório (128 lugares)
Rua Pelotas, 141, Vila Mariana, São Paulo/SP
De 17 de janeiro a 21 de fevereiro de 2020
Sextas-feiras às 20h e sábados às 18h
(Sessão extra no dia 20/2, quinta-feira, 20h)
Duração: 55 minutos
Classificação: 14 anos
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia) e R$ 9 (credencial plena)
Bilheteria: à venda em todas as unidades do Sesc e pelo portal http://sescsp.org.br/programacao/215153_DOS+PRAZERES
Tel: (11) 5080-3000
http://facebook.com/espetaculodosprazeres
http://instagram.com/dosprazeresespetaculo



Ficha técnica:
Dramaturgismo: Ivan Marsiglia
Direção: Ivan Andrade
Atriz: Maristela Chelala
Produção: Anayan Moretto
Cenografia: Julio Dojcsar
Iluminação: Wagner Pinto
Figurino: Marcela Donato
Trilha Sonora: Carlos Vieira
Fotos: Lígia Jardim

Sobre Ivan Andrade
Diretor de teatro, pesquisador de teoria e encenação teatral com mestrado na USP, O mal-entendido, de Albert Camus (2018); Amigos Ausentes, de Alan Ayckbourn (2008) e Entreatos, de Gero Camilo (2005). Escreveu e dirigiu INCUBADORA versão final (2013) e EVERGREEN-tarja preta (2008). Como Diretor Assistente, trabalhou com Gabriel Villela, Zé Celso (Os Sertões; Festival Uzyna Uzona), Gerald Thomas (Kepler, o cão atormentado), Ivaldo Bertazzo (NOÉ NOÉ), Cibele Forjaz (Galileu Galilei; O idiota) e outros. Trabalhou também com o americano Richard Maxwell (X Moradias), com o alemão Florian Loycke (Jardim das Delícias) e com a companhia francesa HVDZ (Les veiellés). Como Coordenador Técnico, foi responsável por grandes produções internacionais, trabalhando ao lado de Bob Wilson (Garrincha; Ópera dos três vinténs; LULU; A última gravação de Krapp), da companhia alemã andycompany& (Fatzer), do alemão Frank Castorff (Anjo Negro) e do artista performático Ziya Azaia (Devirsch). Formado na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) em Direção Teatral, fez um mestrado sob orientação de Antonio Araújo..

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DE OLHO NA CENA BY NANDA ROVERE - TUDO SOBRE TEATRO, CINEMA, SHOWS E EVENTOS Sou historiadora e jornalista, apaixonada por nossa cultura, especialmente pelo teatro.Na minha opinião, a arte pode melhorar, e muito, o mundo em que vivemos e muitos artistas trabalham com esse objetivo. de olho na cena, nanda rovere, chananda rovere, estreias de teatro são Paulo, estreias de teatro sp, criticas sobre teatro, criticas sobre teatro adulto, criticas sobre teatro infantil, estreias de teatro infantil sp, teatro em sp, teatros em sp, cultura sp, o que fazer em são Paulo, conhecendo o teatro, matérias sobre teatro, teatro adulto, teatro infantil, shows em sp, eventos em sp, teatros em cartaz em sp, teatros em cartaz na capital, teatros em cartaz, teatros em são Paulo, teatro zona sul sp, teatro zona leste sp, teatro zona oeste sp, nanda roveri,

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