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Entrevistas e dicas de espetáculos

Seminário Internacional Sob a Luz do Soleil promoveu excelentes estudos em torno da obra do Théâtre du Soleil
Publicado em 04/10/2020, 17:00
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O SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOB A LUZ DO SOLEIL teve como principal objetivo oferecer à comunidade acadêmica e demais interessados, subsídios para reflexões o Théâtre du Soleil.
28 de setembro a 3 de outubro de 2020
Falas apaixonadas e com muito conhecimento sobre o trabalho de uma trupe que busca um teatro popular, de alta qualidade e fazendo reflexões sobre o mundo e a existência humana.
Importante frisar que integraram o evento, mesas de conversas, o Fórum Cine Soleil (filmes com legendas em português e debates em torno da filmografia da trupe), o lançamento de publicações e a exibição remota de trechos do espetáculo As Comadres, que contou com a supervisão artística de Ariane Mnouchkine e foi apresentada no Brasil no ano passado.
O evento foi realizado com a parceria dos Programas de Pós-Graduação em Artes da Cena das universidades públicas UNIRIO, UFRJ e UFBA, com a AURORA – Polo de Pesquisa Teatral, e pesquisadores sobre o Théâtre du Soleil que transmitiram a admiração pela trupe nas suas exposições. Mostraram o quanto dominam questões relativas à teoria e prática e que conversar sobre o Soleil é prazeroso porque o teatro da trupe é vivo, instigante e necessário para que a arte nos salve do caos.
Como todos os participantes salientaram, os encontros, mesmo on-line, foram extremamente interessantes e uma oportunidade ímpar para celebrar o teatro e quem faz da arte um meio para um mundo melhor.
Nada melhor do que aproveitar esses tempos de isolamento para pensar sobre o teatro e evidenciar a trajetória de uma trupe especial como o Théâtre du Soleil. Estamos num tempo de reflexão e valorização de quem merece.


CONFERÊNCIA DE ABERTURA / 10h às 13h (Brasil)
THÉÂTRE DU SOLEIL: OS PRIMEIROS CINQUENTA E CINCO ANOS
Béatrice Picon-Vallin / CNRS- Paris
(mediação Ana Achcar / PPGAC-UNIRIO)

Palestra com Béatrice Picon-Vallin, autora do livro “Théâtre du Soleil – Os Primeiros Cinquenta e Cinco Anos”, recém-lançado em língua inglesa e editado pelo Sesc São Paulo em 2017, e essa sua publicação foi o tema principal abordado.
Julia Carrera e Ana Achcar fizeram a abertura e deram a palavra a Béatrice.
Para a pesquisadora, o Soleil é um dos grandes países do fazer teatral, com espetáculos, filmes e a riqueza das turnês que são relatadas em filmes.
Para iniciar a conversa, utilizou uma fala de Ariane, numa entrevista para o programa Metrópolis: "Resistência é o otimismo".
Beatrice destacou a importância de um encontro sobre o Soleil nesses tempos complicados.
O Théâtre du Soleil é um tesouro vivo e no seu livro ela relata os 55 da trupe (espetáculos, filmes, eventos e as viagens), que para Ariane Mnouchkine é uma grande família. Uma grande companhia organizada como cooperativa, escola e multigeracional.
Segundo Béatrice, existe uma troca entre todas as áreas de criação e as atividades têm como guia a intuição, a prática, os exercícios e o palco.
A fala da pesquisadora fez uma passagem pelo espaço do Soleil para destacar o seu modo de interação com o público e a concepção de um espaço que tem como ponto principal o sol que gera a luz da energia entre o palco e o espectador. Uma circulação para privilegiar a interação entre todos, com a própria Ariane recebendo o público.
Com falas entremeadas por fotos e vídeos, o objetivo foi apresentar o modo de organização, o pensamento e detalhes de 55 anos de história do Soleil, que foi fundado por uma artista que busca um teatro popular, pautado pela pesquisa "o mais belo teatro do mundo", com abertura ao outro, hospitalidade e acolhimento.
Por esse motivo, as viagens são essenciais para o aprendizado e o contato com os outros.
Uma questão essencial na relação entre Ariane e os atores é a realização de um trabalho que tem a forma como guia no processo de criação e a música.
Uma estratégia de criação que começa com as viagens, com a ocorrência dos ensaios e depois a criação dos filmes. O repertório da trupe conta com textos clássicos, atores que escrevem de acordo com a necessidade dos ensaios e as criações coletivas.
A solidariedade com hospitalidade é um guia. Com a ajuda do Soleil, realizaram, por exemplo, intercâmbio com artistas afegãos que foram atuar na França.
Ariane está sempre preocupada com a situação do mundo e do teatro no mundo.
As viagens são a oportunidade para a trupe entrar em contato com diversas culturas e, assim, através da arte, promover reflexões sobre o mundo em que vivemos.
Deu exemplos de espetáculos e colocou que Ariane Mnouchkineé atuante na política através da arte e mostra o caos do mundo.
Um teatro que busca a pluralidade ao encenar obras que apresentam os saberes de outros povos (uma relação estreita com os povos asiáticos principalmente). É através desses contatos que a trupe proporciona transferências culturais, contribuindo para o aprimoramento não só da arte que realiza como também de todos os povos com os quais os artistas da trupe tiveram contato.
Contou também detalhes muito interessantes de Um Quarto na Índia e como as tradições do país foram absorvidas pelos atores com maestria para a criação dos personagens.
"O teatro faz parte dos lugares que podem tornar o mundo melhor", disse Ariane.
Um relato muito interessante foi a interação do público com o Soleil através de cartas, as quais, segundo Béatrice são mais importantes do que os textos de críticos. Uma relação que mostra o quanto estar aberto para se relacionar com o seu público é essencial.
É impossível colocar em palavras uma palestra que citou o processo de criação e detalhes de montagens que levaram para a cena referências de outras culturas, por isso Batrice disse que o seu livro precisa ser lido por todos que se interessam pelo Soleil. Uma obra que foi realizada a partir de entrevistas para chegar a observações sobre a organização da trupe.
Com relação às perguntas dos participantes sobre o funcionamento do Soleil, Béatrice disse que os atores passam por testes rigorosos e no começo ajudam nos bares, só depois vão para o palco.
Não é uma companhia estável porque muitos saem para outros projetos e para constituir família, já que estar na trupe exige dedicação total. Além disso, o espaço está na periferia de Paris e isso pode dificultar o transporte para o local.
Um núcleo de artistas permanece e sempre recebe os novos integrantes. Os espetáculos contam com cerca de 35 atores, mais a equipe técnica.
O Soleil é uma grande trupe sempre apta a resolver os problemas que surgem na cena e na produção. Em cada peça contratam artistas mais indicados para o trabalho de voz, corpo, etc.
Também impulsionada por questões, a pesquisadora disse que Shakespeare, Brecht e Tchekhov são influências e as suas ideias estão sempre presentes, mesmo ela nunca tendo montado espetáculos baseados nos dois últimos dramaturgos.

FÓRUM CINE SOLEIL
FILMES DE TEATRO
"1789 - La révolution doit s'arrêter à la perfection du bonheur”/ 1974 - 194 min
Sinopse por Julia Carrera
1789 - La révolution doit s´arrêter à la perfectiondubonheur, de Ariane Mnouchkine
França, 1974, 194 min,
Após o massacre de Champ de Mars em 17 de julho de 1791, alguns comediantes decidem reencenar os principais acontecimentos dos anos anteriores: desde a convocação dos Estados Gerais até a proclamação da lei marcial, passando pelo Storming of the Bastille, Grande Medo e a abolição do feudalismo. Com entusiasmo intenso, tentam mostrar o arrojo das esperanças, a explosão da alegria rapidamente seguida pelo colapso dos sonhos de igualdade. Para isso, os comediantes usam todas as formas teatrais que têm à mão, pantomima, tragédia, marionetes, ópera bufa, e encarnam o povo, os mais ricos e os mais pobres, que fizeram de 1789 um ano tão decisivo, ao mesmo tempo que ilustram o que Saint-Just disse uma vez: «A revolução pára quando a felicidade perfeita é alcançada»

"Tambours sur la digue” /2002 - 137 min
Sinopse por Julia Carrera
Tambours sur la digue, de Ariane Mnouchkine.
França, 2002, 137 min
Com Nicolas Sotnikoff, Renata Ramos Maza, Juliana Carneiro da Cunha
Esta apresentação pseudo-antiga quase sino-japonesa da peça de Helene Cixous diz respeito a um dilúvio devastador em uma mítica terra asiática e à questão de quem deve ser salvo - a nobreza ou os camponeses. O espetáculo é visualmente impressionante com os atores sendo apresentados como fantoches bunraku em tamanho natural, manipulados por mestres de trajes negros.

Os encontros da tarde têm por objetivo falar sobre os filmes do Soleil que estão disponíveis em português.
Os filmes ajudam a contar a história do Soleil.
Segundo Julia Carrera, 1989 é o registro de um espetáculo que foi um dos grandes sucessos do Soleil. É um filme de teatro e vai além do registro da cena porque traz uma linguagem próxima do cinema mudo.
A música é fundamental na trajetória do Soleil e o Maestro Amalfi falou da origem da entrada de Jean-Jacques Lemêtre no Soleil e a sua importância na trajetória da trupe.
Apesar dele não ter participado de 1789, a sua potência musical já está presente no filme.
O Soleil veio para o Brasil em 2007 e 2011 somente porque traz consigo uma grande equipe, cenários, uma estrutura muito cara para viagens.
Por esse motivo, os filmes do Soleil são preciosos para o contato dos brasileiros com a trupe.
E a dica da Prof.ª Deolinda de Vilhena,
sem desmerecer nenhum filme, é Molière, que será debatido amanhã.
"Declaração de amor ao teatro", elogiou.
A cena da morte de Molière é a sua preferida e sempre que precisa espairecer gosta de revê-lo.
Também disse que todos que amam e fazem teatro precisam ver essa obra-prima.

MESA DO THÉÂTRE DU SOLEIL À ARTA
Jean-François Dusigne e Lucia Bensasson são ex-integrantes do Soleil dedicados a ações formativas e pedagógicas através da ARTA (Associação de Pesquisa das Tradições do Ator), instituição sediada também na Cartoucherie, onde se encontra o Théâtre Du Soleil;
Mediação Deolinda Vilhena / PPGAC-UFBA
LUCIA BERNASSON abordou a trajetória do Soleil
e da ARTA, que nasceu para proporcionar encontros para abrir novas perspectivas do teatro contemporâneo.
A Arta é uma Associação de pesquisa da arte do ator.
Segundo Deolinda, que fez a abertura do evento, falar da arte do ator, num momento de destruição da arte é muito importante.
Deolinda salientou que Ariane cuidou da administração da ARTA por um bom tempo.
Para Deolinda, foi uma emoção encontrar as pessoas após 21 anos de estudos e sempre que está em Paris e vai ao Théâtre du Soleil, a emoção é enorme.
Lucia chegou no Soleil em 1967 e integrou a trupe por 15 anos.
Sonho de uma noite de verão foi o seu início na trupe e marcante. Disse que foi uma experiência única.
Havia uma relação amistosa, com ensaios pela manhã e encontros à tarde. Já havia tradição da máscara, mas num primeiro momento a deixaram de lado para trabalharem com ela no futuro.
Escolheram a técnica clown para esse trabalho.
Destacou a excelência do Soleil na preparação do espetáculo 89, com acesso dos atores a uma cinemateca com filmes da comédia francesa e figurinos, essencial para a criação do espetáculo.
Passou por várias experiências, em Mephisto, por exemplo, destacou o estudo de Meyerhold, Brecht, o contato com as máscaras, a commedia dell’arte, as tradições balinesas e a descoberta da universalidade dos códigos de interpretação.
Citou os vários momentos da trupe no decorrer dos anos e da criação, assinalando que após Mephisto muitos artistas saíram e a mistura entre veteranos e jovens começou a ser uma marca do Soleil naquele momento.
Logo em seguida, mergulharam nas obras de Shakespeare, com a busca da cultura asiática que é marca registrada do Soleil...Noite de Reis, por exemplo, trouxe elementos da cultura indiana.
E como no teatro asiático, a música é de suma importância, com a presença do músico em cena.
A atriz saiu do Soleil para ver o filho crescer e em 1987, a partir de uma viagem pessoal a China, começou a pensar em criar uma escola de teatro. Conversou com a Ariane e ela a ajudou a criar a escola (ARTA) com grandes mestres e abrir assim um horizonte extraordinário a partir do contato com a arte chinesa. Trouxe mestres do teatro chinês e aí surgiu a ARTA com a parceria do Chile e mais outros teatros parceiros.
Um relato preciso e precioso de como surgiu a ARTA e a sua importância na formação de artistas.
Não existia um espaço físico e sempre foi acolhido pelos teatros parceiros, entre eles o Théâtre du Soleil.
Falou sobre a inauguração de uma sede e as parcerias com artistas da Índia e da Rússia.
Hoje Lucia deixou a ARTA, mas não consegue romper os laços com uma instituição de suma importância na sua vida.

JEAN-FRANÇOIS DUSIGNE, administrador atual da ARTA, escola que tem 30 anos de existência, colocou a questão do futuro incerto com a pandemia e a precariedade da arte num contexto de individualismo, liberalismo, ameaças climáticas e pandemia. Como a Arta se insere nesse contexto?
No início teve apoio governamental, mas hoje sofre com a precariedade da arte, um mundo em que é preciso pensar na relação do homem com a natureza e a arte, para que seja possível uma maior valorização das tradições e do valor do ser humano. E isso só pode acontecer a partir da transmissão de saberes para novas gerações e solidariedade, deixando de lado valores econômicos.
A Casa da ARTA foi concebida como um local onde quem ministra cursos pode dormir, com um local para refeições e como está num parque, longe do centro de Paris, é um local de encontro que permite a troca de experiências e a descoberta de caminhos diferentes para a criação artística.
Pesquisa aspectos da arte na modernidade, mas não somente ocidental, além de ter o objetivo de utilizar a ideia de globalização para valorizar a relação entre ocidente e oriente, uma relação pautada pelo respeito aos mestres e à troca de saberes.
Também abordou a sua experiência no Soleil, o ensinamento através do contato com outros atores mais experientes que dominam o corpo e possuem uma relação visceral com a música.
Através de fotos, analisou a importância do contato com outras culturas para o aprendizado de artistas que trabalham com a fusão da teoria e prática.
Entre as experiências mostradas, o contato com a Maria Thais, da Cia Balagan e com o diretor Antonio Araújo.
A ARTA busca a circulação, o maior número de parcerias com outras instituições. Tem como mola propulsora não ficar restrita ao seu espaço em Paris. Por enquanto tudo está parado devido ao fechamento das fronteiras e ainda é incerto como será essa itinerância pós pandemia.
ARTA - ESTÍMULO À DESCOBERTA, DIÁLOGOS COM OS MESTRES, ETERNO CRUZAMENTO (DE EXPERIÊNCIAS) E VONTADE DE IR ALÉM.
DEOLINDA DE VILHENA

FÓRUM CINE SOLEIL
REFLEXÕES SOBRE o FILME MOLIÈRE
Molière, de Ariane Mnouchkine
Sinopse por Julia Carrera
França, 1978, 244 min
Com Philippe Caubère, Marie-Françoise Audollent, Jonathan Sutton
Com 120 actores, 600 participantes, 1300 figurinos, 220 cenários e depois de dois anos de trabalho, este filme conta a fascinante história de Molière e do seu século, em quatro horas. Como esse menino, nascido em 1622 de um estofador e de uma mãe amorosa que perderia cedo demais, se tornaria o prodigioso ator, e tão bem aclamado autor, e tão pouco conhecido? Desde a sua infância até à sua morte, seguimos Molière e os seus companheiros de viagem, na sua alegria, miséria e glória ao longo de uma França selvagem mas refinada do século XVII, partilhando as suas primeiras aventuras teatrais, os seus sucessos e fracassos, as suas lutas e momentos de covardia.
Data de lançamento: 30 de agosto de 1978 (França)
Música composta por: René Clemencic
Elenco: Philippe Caubère, Marie-Françoise Audollent, Frédéric Ladonne, Jonathan Sutton, Jean Dasté, mais
Indicações: César de Melhor Som, César de Melhor Filme, César de Melhor Diretor
Prêmios: César de Melhor Direção de Arte, César de Melhor Fotografia
Julia Carrara é apaixonada porque vê a obra como se ela recebesse uma mensagem numa garrafa trazendo uma experiência vida do Soleil.
Um caráter de fórum de discussão com perguntas.
Filme de 1978. O Soleil tem somente duas obras cinematográficas de ficção é Molière é um deles. É feito em película e logo após o sucesso de Las Dor.
Não parte de um espetáculo original. Só bem mais tarde o Soleil monta Tartufo.
É um desafio para a trupe. 4h de duração é tudo é superlativo, filme de época que mostra a trajetória de Molière a partir de um roteiro original numa época em que a trupe estava fazendo uma reconfiguração de sua trajetória após o sucesso da peça L'Age d'Or, de 1975, que trabalhava com a commedia dell’ arte.
Traz uma visão própria da Ariane e trata do mundo do fazer teatral, da vida de Molière, numa inevitável alusão ao Soleil.
O espectador embarca numa experiência estética cinematográfica, mas que obviamente traz os ensinamentos do Soleil.
Tem cenas poéticas, coloridas, como num momento em que o teatro voa e os artistas correm atrás dele. O filme é carregado de esperança, belos figurinos, sequências longas que promovem encantamento e acabam se tornando uma assinatura do modo de Ariane fazer cinema.
O início do filme traz uma metáfora do Soleil, com crianças brincando no sótão. Remete à ideia do Soleil de buscar o lugar da infância, da improvisação e do olhar para o espaço vazio e ver o mundo.
Vale lembrar que no site do Soleil existem muitos dados sobre o filme e a trajetória da trupe.
Julia Carrera relembrou cenas, as quais contém a essência do Soleil, e elogiou todos os atores, especialmente Philippe Caubère como o protagonista.
Em termos estéticos a obra é de uma riqueza infinita, artesanal, e mostra o quanto a trupe está sempre mergulhada em processos de criação marcantes.
Um destaque é a narração em off da Ariane, que após os anos 2000 se transformou em marca registrada dos filmes do Soleil.
O músico Maestro Amalfi sinalizou que a música está presente através dos preceitos da música barroca para junto com todos os elementos das cenas, desenhar o cenário de uma época antiga.
O filme tem momentos de silêncio e a trilha entra em momentos de narrativa poética.
Nessa obra, na cena do carnaval, músicos executam a trilha, o que já sinaliza uma característica que será usada pela trupe teatral: a música executada ao vivo no palco.

SOLEIL - TEATRO COM EXCELÊNCIA E POPULAR FEITO COM REQUINTE) COM ACESSO A TODOS. DEOLINDA DE VILHENA

MESA MONTAGEM, INTERMIDIALIDADE E MEMÓRIA EM FILMES DE TEATRO
Participantes: Catherine Vilpoux (diretora do L'Aventure du Théâtre du Soleil e editora dos filmes da trupe) e Julia Carrera (doutoranda PPGAC UNIRIO)
Mediação: Vanessa Texeira de Oliveira (PPGAC-UNIRIO)

Catherine Vilpoux encontrou Ariane Mnouchkine para fazer trabalhos de montagem dos seus filmes. Tinha o hábito de ir ao teatro, mas não era fã.
Disse que o encontro com o Théâtre du Soleil foi excitante, com muita curiosidade e relações humanas que a impulsionavam a viver. Segundo Catherine, Ariane pensa nos seus filmes com a mesma grandiosidade das suas peças.
Foi aprendendo com a Ariane, com tentativas, acertos e erros, um jeito de levar da melhor maneira possível o espírito dos espetáculos do Soleil para o formato do cinema, sem deixar de lado a essência do teatro. Um trabalho minucioso com a diretora, os atores, os elementos de cena, a luz, buscando o melhor ângulo para retratar a cena teatral.
Ariane tinha vontade de filmar os seus espetáculos e para Catherine levar a linguagem do teatro para o cinema não foi tão complicado porque ela já tinha feito esse trabalho para uma companhia de dança francesa.
Disse que num primeiro momento foi difícil para Ariane encontrar uma maneira para levar as peças para o cinema e foi se adaptando com o uso de pequenas câmeras no palco.
O filme nunca substitui o teatro, mas ele sempre foi pensado não só em registro, mas também como uma forma de criar uma linguagem que mostrasse a magnitude dos espetáculos e tivesse também detalhes técnicos típicos do cinema.
O objetivo é proporcionar ao espectador a possibilidade de olhar a cena como um todo ou a atuação de cada personagem. Na transposição do teatro para o cinema é preciso direcionar o olhar o espectador.
Catherine destacou que com Ariane não tem como chegar para trabalhar já com propostas fechadas sobre como conduzir as filmagens. Ela sabe o que deseja, mas só consegue criar a partir de ideias que surgem durante o seu processo de criação no palco.
Sobre o documentário que registra a trajetória do Soleil ela recebeu uma proposta e num primeiro momento foi complicado, porque propuseram um documentário tradicional, com uma equipe inteira de produção, e ela sabia que Ariane queria algo mais simples, como se não tivesse ninguém filmando, algo mais discreto.
Catherine comparecia com frequência ao Soleil, fazendo registros dos ensaios, entrevistas e estava sempre muito aberta para captar momentos interessantes do dia a dia da trupe.
Contou detalhes essenciais para demonstrar o quanto o olhar de Ariane é tocante, como uma criança que está sempre criando de uma maneira apaixonante.
Ariane traduz as suas preocupações do mundo na arte, e segundo Catherine, se ela fosse cineasta levaria essa característica para o cinema. Um trabalho não realista, onírico, realizado por uma pessoa que ama cinema.
Catherine não estava nesse momento realizando filmes com o Soleil, mas gostaria de ter registrado as experiências da trupe na Índia e Afeganistão, as quais formaram muitos artistas e falavam do futuro da França e do mundo, sempre com uma visão voltada para o social e cidadão.

Julia Carrera, que é apaixonada pelo Théâtre du Soleil e seus filmes, acredita que, após a pandemia, ter o registro dos espetáculos em filmes será mais precioso do que nunca.
Por mais que nunca o teatro filmado apresente a magia que acontece no palco, Catherine conseguiu apresentar nos filmes o quanto as suas criações teatrais são tocantes.
A partir dos filmes é possível conhecer a trajetória do Soleil e os seus preceitos.
O cinema que se enamora do teatro se constitui num gênero e não é simplesmente uma filmagem, pois apresenta o olhar do cinema, no trabalho das câmeras.
O Soleil encontra uma tradução cinematográfica para o conteúdo das cenas, para a estética das cenas. O palco de teatro é transformado num set de cinema, misturando artifícios do teatro e do cinema.
Não existe o efêmero no cinema, mas traz o conteúdo das cenas para o cinema. É uma imersão no processo crítico da trupe, pelo tempo longo de duração dos filmes e pelo caráter encantador dos espetáculos. Julia pode perceber o valor dessa experiência no ano passado, quando no colóquio sobre o Soleil, realizado no Centro Cultural São Paulo, vários filmes foram exibidos.
Julia destacou que atualmente existe um atravessamento de mídias e por isso pensar na intermidialidade existente na obra do Soleil é extremamente pertinente,
Os filmes devem ser apreciados como registro, material de arquivo, apresentando resquícios do processo de criação e uma visão do Théâtre du Soleil através do cinema, com uma escritura cinematográfica de muito valor.
Julia salientou que para além da questão estética, o Soleil funcionando enquanto cooperativa, e num espaço cheio de galpões e amplo, cria um paralelo com os profissionais de cinema, lembrando um set de filmagem.
Em 1789, por exemplo, expõe a visão de mundo e dá pistas de como o Soleil vai atuar no decorrer dos anos que se seguem a esse trabalho.
A pesquisadora realizou uma detalhada radiografia dos filmes mostrando momentos em que a linguagem do cinema foi a matéria prima principal, outros em que foi uma maneira de registro das peças e o quanto a filmografia do Soleil traça um panorama da trajetória e do pensamento da trupe e de sua diretora Ariane Mnouchkine.
Para Julia, o Soleil tem a capacidade de prospectar as questões de cada época e assim dialogar com as problemáticas que surgem através dos tempos, o que certamente proporcionou que cada criação tenha as suas formas específicas, como o uso da máscara, do canto, e o papel do cinema em cada época da trupe.
¨O Soleil faz um registro da transformação das sociedades, atravessando fronteiras e vencendo a efemeridade do teatro¨.

NO FÓRUM CINE SOLEIL – CINEFICAÇÃO E INTERMIDIALIDADE NA CENA:
¨O SOLEIL CELEBRA A VIDA¨ - JULIA CARRERA
Apresentação: Julia Carrera e Marcello Amalfi / AURORA
Quando fez Tambours Sur La Digue (2002): colocou no cenário palavras sobre naufrágio, o que já dava uma pista para o novo mergulho.
É uma ode ao cinema de uma artista que ama cinema e traz influências de Chaplin, Jonh Ford e Buster Keaton, e surge a partir da experiência Les Ephémères - Os Efêmeros, apresentada no Brasil, no festival de teatro Porto Alegre em Cena e na cidade de São Paulo em 2007.
Vale citar que em 2010 - Os Náufragos da Louca Esperança foi apresentada no Brasil, nas cidades de Canoas, Rio de Janeiro e São Paulo, em 2011. Livremente inspirado no romance Os Náufragos do Jonathan, de Júlio Verne. Dramaturgia: Hélène Cixous Música: Jean-Jacques Lemêtre.
Les Naufragés du Fol Espoir teve o apoio do Sesc e tem o nome do prof. Danilo Santos de Miranda nos agradecimentos.
Na trama, a história do bar chamado Louca Esperança. Lá, um grupo de artistas se reúne, no verão de 1914, em Paris, para adaptar para o cinema um livro póstumo de Júlio Verne, no qual discutem os rumos da Europa, às vésperas da Primeira Guerra Mundial.
Na peça não existe a presença da criança, da visão delas sobre o mundo. Já no filme existe uma sequência em que elas estão no sótão e sonham com a Louca Esperança.
Um detalhe interessante é que o tempo teatral não deu certo na elaboração do filme, na montagem Catherine Vilpoux precisou dar agilidade às cenas.
O maestro Amalfi sinaliza que a música nesse filme é mais uma vez um marco e como em 1914 quem acompanhava musicalmente a exibição dos filmes eram os chamados pianeiros, e durante um bom tempo eles criavam a trilha de acordo com a cena.
Jean-Jacques Lemêtre, o músico do Soleil, criou a música para a peça e o filme baseada nessa função do pianeiro. Existe uma música gravada e ele está tocando em cena, interagindo com os atores. Pela primeira vez o músico não está ao lado tocando, mas está interpretando um personagem.
Neste sentido, a metalinguagem se caracteriza como uma aula de como o cinema era feito em seus primórdios com as técnicas de cinema mudo.
O filme tem muitas camadas. Tem o registro do espetáculo, tem um roteiro original, traz uma homenagem a Ariane, que faz narrações.
No mesmo caminho de Molière, existe a metalinguagem, pois através da ficção fala da realidade do artista de teatro.
Para a Ariane, “o teatro é um sótão, um terreno vazio onde se projetam sonhos”. Por esse motivo, ela trata a infância, que é apresentada de diversas maneiras, de modo poético, e está presente nestes dois filmes.
A infância para ela, Ana Achcar, é o ator, que precisa acessar, para criar os personagens, o seu imaginário, as suas crenças, a sua visão de mundo e conhecimento.
O SOLEIL CELEBRA A VIDA tem um trabalho organizado em seus mínimos detalhes, com funções determinadas para que todas as áreas de criação e o espaço teatral funcionem da melhor maneira possível, mas, ao mesmo tempo, todos estão abertos a ajudar em todas as atividades, não só artísticas, mas também do cotidiano (como ajudar na cozinha, por exemplo, quando é preciso. Como em todos os lugares, existem desavenças, mas a ideia é sempre valorizar a boa convivência.
Ariane não aceita um ator despreparado, ele tem que estar com toda a caracterização corretíssima para entrar em cena, o mergulho do ator precisa ser profundo no seu trabalho.
Neste sentido, ela traz consigo uma pedagogia, no sentido de fazer com que o ator aprenda pela prática a ver o teatro como uma arte a serviço do aprimoramento do ser humano, a arte feita de forma compromissada com a sociedade e vista como uma forma de transformação do espectador e do próprio artista.

“ARIANE MNOUCHKINE É UM INSTRUMENTO A SERVIÇO DO TEATRO¨ - ANA ACHCAR

“Les Naufragés du Fol Espoir” / 2013 - 360 min
Sinopse por Julia Carrera
Les Naufragés du Fol Espoir, de Ariane Mnouchkine
França, 2013, 360 min,
Com Maixence Bauduin, Galatéa Bellugi, Duccio Bellugi-Vannuccini
Ariane Mnouchkine quer caçar o miasma político de nossos últimos anos. Como devolver a vida à esperança? O gatilho veio da leitura de um romance póstumo de Júlio Verne, Os Naufragos do Jonathan, que relata a história de um grupo de sobreviventes de um naufrágio que edifica uma pequena sociedade no Cabo Horn.
pessoas do mundo todo. Muitas pessoas queriam trabalhar com o Soleil, mas não tinham condições.
Com as escolas, o contato com pessoas de várias localidades do mundo é sempre instigante pelas descobertas O Soleil e o multiculturalismo: As Escolas Nômades e as Comadres
Participantes: Hélène Cinque (Théâtre du Soleil), Carmen Romero Fundación (Teatro a Mil - Chile) e Ana Achcar (PPGAC-UNIRIO)
Mediação: Eduardo Vaccari (Faculdade Cesgranrio/ FEBF-UERJ)

A atriz Hélène Cinque disse que está emocionada por participar do evento e informou que a primeira escola aconteceu no Chile porque financeiramente era complicado levar para Paris de suas histórias e anseios; são relações humanas e troca de conhecimentos muito especiais. ¨Temos muita sorte e ela tem que ser compartilhada senão seria insuportável¨.
As escolas têm com os alunos uma relação amistosa para recebê-los o melhor possível. Procura-se a generosidade de Ariane nas suas realizações nas escolas nômades - a potência de jogo e vontade de brincar da diretora do Soleil.
A escolha de qual localidade irá receber a escola geralmente acontece através da solicitação por cartas. Infelizmente limitações financeiras não permitem que muitos lugares contem com as escolas, mas existe, por exemplo, a vontade de trazê-la para o Brasil futuramente.
A escola proporciona encontros de culturas para transmitir o modo como Ariane trabalha no Soleil, buscando sempre o aprendizado através da prática, e levando para o palco reflexões que coloquem em evidência a problemática do mundo, incomodando os atores (impulsionando o jogo como faz uma criança). Temas são lançados para o ator criar em cima das propostas.
De acordo com as habilidades e anseios de cada ator, são delimitados os caminhos das improvisações em cima dos variados assuntos.
É trabalho coletivo moldado a partir de um quadro branco para ser possível captar todas as informações disponíveis da realidade e cotidiano dos artistas, uma equipe formada por muitos jovens. São estagiários e alguns acabam integrando a trupe do Soleil.
Tudo é filmado e o trabalho é tecido a partir de um trabalho árduo de descobertas. Com relação à distribuição dos personagens, por exemplo, no decorrer do processo podem ser interpretados por um ator e depois acabar nas mãos de outro.
Os profissionais que orientam as improvisações nas escolas dão conselhos sobre o modo de se vestir (sempre têm que estar muito bem vestidos com os figurinos), se comportar em cena e captar o instante do momento para levá-lo para o palco.
O essencial no Soleil, e nas escolas, é tocar o coração do espectador. É uma escola que busca apresentar como é a vida difícil de um ator. ¨Um teatro vivo com o seu corpo, a sua carne, a sua paixão¨. ¨Uma emoção interior que chega até a célula do corpo¨.

Carmen Romero contou como chegou até o Soleil e levou para o Chile a escola. Conheceu Ariane através da Fundación (Teatro a Mil do Chile) e foi o ator André Perez, parceiro de Carmen, que foi aprimorar o seu trabalho com a Ariane.
A diretora do Soleil chegou ao Chile ainda na época da ditadura e compartilhando ideias com o Brasil. Levaram os Náufragos da Louca Esperança para o país, montando-o da mesma maneira que acontece no espaço do Soleil em Paris.
A escola no Chile foi montada numa comuna com os jovens alucinados e vivendo uma experiência de vida com uma intensa maratona diária de trabalho e com um público formado não só por atores.
O resultado foi transmitido pela web e a partir desse momento grupos foram formados e muito continuam seguindo o Soleil. ¨O Soleil é uma família à qual queremos ficar ligados.”
Para Ariane, o mundo tem que mudar através da escola e ela defende que as artes cênicas precisam ser integradas às escolas públicas. No Chile existe essa oportunidade e é uma oportunidade ímpar para o aprendizado do valor da arte, de como viver em comunidade e de como é possível mudar as coisas através do teatro.

Ana Achcar, por sua vez, destacou a profundidade dos trabalhos do Soleil e das realizações das escolas. Destacou também que não faz pesquisas sobre o Soleil, mas é apaixonada por acompanhar o trabalho da trupe e por ter integrado o elenco da peça As Comadres, que teve Hélène como assistente de Ariane.
Segundo Ana, As Comadres, do dramaturgo canadense Michel Tremblay, foi escrita em 1965 e considerada o primeiro drama quebequense, pelo fato de o texto utilizar o joual, dialeto usado pela classe trabalhadora da cidade.
Ariane viu uma montagem com versão musical canadense, de René Richard, e que foi para Paris. Usou essa concepção na peça que teve apresentações no Brasil. Não hesitou em copiar e por isso, não assina direção e sim supervisão.
Para Ariane, a cópia é valiosa porque é uma tradição oriental e muito comum nos processos de criação do Soleil, cópia do trabalho sobretudo de atores que eles chamam de ¨peixe piloto¨.
Existe na sua concepção, um momento em que a cópia é deixada de lado e o ator impõe o seu modo de interpretar e entender o espetáculo.
Achcar contou que nas ¨Comadres¨ o trabalho foi realizado em três etapas e foi encantador para quem já conhecia ou não o Soleil. Não houve, por exemplo, trabalhos com máscaras, mas um mergulho no mundo encantado da cópia através do vídeo da montagem já existente.
Somente duas personagens não foram criadas dessa maneira porque Ariane não gostava do modo que foram criados.
Repetiram a cópia e de tanto repeti-la, segundo Ana Achcar, é que aparecem as peculiaridades de cada ator.
Uma produção que colocava em cena atrizes se alternando nos personagens, trabalhando a ideia de que é preciso saber ¨largar¨ a ideia, no caso, a personagem, largar para viver.
Largar é uma palavra que Ariane aprecia muito porque acredita que trocas trazem vivacidade ao teatro, assim o artista não se acomoda.
Ariane transgrediu a montagem original e propôs um coro de vizinhas para que todas as atrizes pudessem ocupar o palco, mesmo nos dias em que não estavam interpretando os seus personagens.
Ana diz que vivenciar esse processo foi um momento de importante transformação no seu modo de ver o teatro porque ela viveu o teatro como a missão de estar ¨a serviço de¨. A cópia trouxe a empatia e solidariedade.

CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO: CINEMA E ETNOGRAFIA
Conferencista: Éric Darmon (Diretor)
Mediador: Gabriela Lírio (PPGAC - ECO/UFRJ)

Gabriela Lírio salientou que Éric Darmon apresenta um cinema que nos provoca a entrar em contato com a capacidade de sonhar, retratando o cotidiano do Soleil
Entre tantos trabalhos de qualidade, em 1994, Éric conheceu Ariane Mnouchkine, com quem dirigiu seu primeiro longa Au Soleil Meme la Nuit (Cenas de parto).
Manteve contato com Ariane quando propôs, para uma TV local na qual trabalhava, realizar um documentário sobre a Cartoucherie. Chegou no Soleil e sentiu um estranhamento porque todos tinham um ritual de se abraçar e beijar todo dia.
Éric Darmon filmava todos os ensaios e tudo o que acontecia no teatro. E ter uma vida fora do Soleil era difícil porque era raro ter horas vagas.
Sinalizou que Ariane não é uma pessoa fácil para se trabalhar porque, com o seu processo intenso, ela acaba deixando as pessoas chateadas em alguns momentos. Algumas acabam saindo e para reestruturar a vida não é fácil após tanta dedicação aos projetos de Ariane.
Frisou, como outros participantes, que existem regras muito rígidas e divisões das atividades. No espaço há dormitórios e quem está lá tem a função de preparar refeições, fazer a limpeza e outros serviços de manutenção. Existe muito respeito e tudo é feito como ritual, como por exemplo, nas refeições, onde é possível transmitir a Ariane as observações sobre como está sendo o processo de trabalho.
É preciso chegar pontualmente às 8h da manhã e entender que na arte existem altos e baixos e que a espera é fundamental, seja para entrar em cena, seja para esperar um personagem de maior visibilidade no palco.
Ariane é uma artista genial, nas palavras de Darmon, que traz com a sua trupe problemas que são comuns em qualquer família.
Resolveu ficar afastado desse ritual, para que, com sua câmera, tivesse um olhar especial de um etnólogo que capta a essência do Soleil no seu processo de criação e nas relações, sem julgamentos.
Por outro lado, sentia-se muito próximo de todos, porque realizou um trabalho intenso de mergulho no cotidiano de criação.
Coletou a fala dos atores, através de fitas gravadas, dando liberdade e todos de dizerem o que sentiam que era importante. Não saiu no filme, mas as gravações estão guardadas nos arquivos de Darmon porque trazem visões interessantes sobre Ariane e o Soleil.
O resultado foi um filme em harmonia com as ações de Ariane, o seu processo de criação e o processo da criação dos atores, desde os bastidores no camarim até os ensaios no palco.
Um documentário para entender o Soleil e o teatro em geral, cumprindo assim a função de um documentário, que é captar a essência.
Na visão de Darmon, isso deve ocorrer com o diretor registrando de modo transparente, isto é, sem julgar, sem direcionar alguma ação ou comportamento que está sendo gravado.
Aprendeu a escutar o outro com os mestres e com a Ariane. Outro ensinamento foi também sair do centro com um olhar generoso.
Nas primeiras tomadas do filme, contou que ficava fixo num lugar, e com o auxílio de Ariane, ele começou a ocupar outros espaços no teatro, descentralizando o olhar sobre o processo de trabalho da trupe.
Contou que passaram horas entre montagens e foi o Canal Arte que fez com que as pessoas conhecessem o Soleil.
Disse que o Soleil faz parte da sua vida, assiste todas as peças e ainda traz na sua memória as imagens de Au Soleil Meme la Nuit.
Classificou esse filme como “genial, violento e engraçado¨. Obrigatório para quem quer fazer documentário (e obrigatório para a vida).
Como para todos os participantes do Seminário, na sua opinião, Ariane é uma sonhadora incrível. Ela faz parte da sua vida.
Para ele, Ariane é uma antropóloga sempre em busca de aprender e ensinar, um cineasta que nasceu com arte na veia para transformar em diário os vários momentos da vida.
1996-97: Filme Au Soleil Meme la Nuit (NO SOL MESMO À NOITE); (Cenas de parto), 1996 é um filme de Eric Darmon e Catherine Vilpoux em harmonia com Ariane Mnouchkine. Coprodução The Seven ARTE, Agat Film and com Co. e the Théâtre du Soleil. Filmado no Cartoucherie durante os seis meses de ensaios até as primeiras apresentações de Tartuffe de Molière. Música de Jean-Jacques Lemêtre.

Au Soleil Mème La Nuit, de Éric Darmon & Catherine Vilpoux
França, 1996, 189 min,
Sinopse por Julia Carrera
Este é um filme sobre o ensaio de Tartuffe de Molière em 1995. Trabalhando de forma manual ou com um stand de até doze horas por dia, o cinegrafista Eric Darmon teve livre acesso para documentar a peça. Desde a gestação, com as instruções da diretora Ariane Mnouchkine, às crises e momentos de incerteza. Cada ação e decisão, e todas as tensões, euforia, gafes e ataques de loucura foram filmados como eles aconteceram. E depois veio a editora Catherine Vilpoux, confrontada com 580 horas de material e um exercício titânico de visualização, seleção e montagem.
Vale lembrar que as produções da companhia oferecem clássicos do teatro ocidental, mas também obras originais. Entre os destaques, marionetes ao estilo bunraku em sua produção Tambours sur la Digue.

LANÇAMENTO DE PUBLICAÇÕES
MAIS INFORMAÇÕES: HTTPS://WWW.SOBALUZDOSOLEIL.COM
HTTPS://WWW.SOBALUZDOSOLEIL.COM/PUBLICAÇÕES

Todos sabemos que a leitura no Brasil é pouco fomentada. Se já é complicado divulgar textos lançados por editoras, apresentar ao público publicações realizadas no âmbito da academia é sempre uma árdua tarefa.
Por esse motivo, uma parte do Seminário foi reservada para que os pesquisadores que integraram a organização do evento - e os encontros – apresentassem os resultados dos seus estudos voltados ao teatro do Soleil.

- Caderno de Textos Ariane Mnouchkine no Brasil – COLEÇÃO CADERNOS Vol.6, Edição Digital Núcleo do Ator UNIRIO
- Livro de comunicações do I Colóquio Sob a Luz do Soleil – SP/ 2019 (digital).
- Les Éphémères – Cinema no palco do Théâtre du Soleil, Editora Ghiostri.
- Dossiê Música e Cena do Théâtre du Soleil. Revista Dramaturgias – N.14 Laboratório de Dramaturgia (LADI) da Universidade de Brasília, Editor convidado: Prof. Dr. Marcello Amalfi
Apresentação: Julia Carrera e Ana Achcar
Mediação: Ana Bulhões

Ana ressaltou que as publicações são um avanço de suma importância nos estudos sobre Ariane, destacando o seu valor e o respeito ao outro e palavra ao outro.
Esse respeito ao trabalho do outro está contido nas publicações, sem deixar de lado a crítica ao trabalho da trupe o necessário distanciamento do pesquisador.
Julia Carrera participou da elaboração das seguintes obras:
- Livro de comunicações do I Colóquio Sob a Luz do Soleil – SP/ 2019 (digital). A obra fala sobre o evento organizado no Centro Cultural São Paulo, na época da estreia da peça As Comadres. Um caderno em PDF disponibilizado a partir de solicitação por e-mail.
Um evento presencial com mesas de debates e sessões de cinema, com a presença de estudiosos do Soleil, com a presença da Prof.ª. Deolinda Vilhena, que faz parte da equipe organizadora do Seminário sob a Luz do Soleil e realiza uma pesquisa vinculada aos processos de produção do Soleil. (Ver foto na galeria)
Uma boa notícia é que o seminário on-line deste ano também ganhará publicação.
- Les Éphémères – Cinema no palco do Théâtre du Soleil, Editora Ghiostri. É a tese de Julia sobre o espetáculo e o procedimento do cinema dentro da cena, com a presença de uma entrevista com a Ariane para o complemento das reflexões.
Entre os tópicos de análise, o hibridismo entre teatro e cinema, o processo criativo de Les Éphémères, o teatro performativo que começa a aflorar na trupe se diversificando, portanto, da tradição das máscaras. A publicação traz notas catalogadas de ensaios e imagens que mostram os atores em escadas rolantes, num espetáculo de longa duração, numa estética que vai além da performance.
Traz pistas da sua atual pesquisa sobre Os Náufragos da Louca Esperança.
Ana Achcar contou um pouco sobre o conteúdo da coleção Caderno de Textos Ariane Mnouchkine no Brasil – COLEÇÃO CADERNOS Vol.6, Edição Digital Núcleo do Ator UNIRIO.
Salientou a importância do evento para a divulgação de produções acadêmicas que não têm espaço para que o lançamento das obras chegue ao conhecimento de quem aprecia teatro.
A publicação traz as falas de Ariane em três eventos no Brasil.

Sobre o Dossiê Música e Cena do Théâtre du Soleil, Revista Dramaturgias – N.14 Laboratório de Dramaturgia (LADI) da Universidade de Brasília, o Prof. Dr. Marcello Amalfi durante o evento contou muitos detalhes das suas pesquisas e vivências, e a revista é fruto da sua defesa de tese.
Como não existem regras de registro do trabalho das trilhas, o Maestro, desde 2011, registra estudos utilizando a experiência pessoal de contato com a trupe na França e as conversas que realiza com o próprio músico do Soleil, Jean-Jacques Lemêtre, com quem mantém laços de amizade.
Aproveitou a oportunidade para mostrar o livro denominado Macro Harmonia da Música do Teatro, que mergulha nos processos criativos que caracterizam o trabalho dos compositores e encenadores teatrais.
No Dossiê, além de texto de doutorado de Amalfi, existem textos de outros profissionais que conviveram e estudaram o processo de criação do Soleil.
Para conhecer mais sobre a carreira do Maestro enquanto músico (compositor de cinema, teatro e TV) e pesquisador:
maestroamalfi.com

Encontro AS COMADRES: Exibição de trechos em vídeo do espetáculo As Comadres comentados pelas atrizes brasileiras e equipe de criação, observando os seguintes temas: Dramaturgias e Releituras; Teatro Musical; Facetas do Feminino; Encenação e “Comadres brasileiras”.
No evento de encerramento a ideia foi celebrar.
Um ponto de encontro assim como acontece no Soleil, ¨farol da arte¨, nas palavras da Profª. Deolinda de Vilhena.
Após quase 30 anos no Théâtre du Soleil, Juliana Carneiro da Cunha desejava retornar aos palcos nacionais e trazer para o Brasil um pouco do espírito do Soleil. Ariane aceitou o desafio e escolheu As Comadres, que nesse último encontro do seminário ganhou uma análise profunda através de vídeos e depoimentos do elenco e equipe.
A conversa aconteceu em vários blocos e contou com cenas da peça. Para quem não conseguiu prestigiar, a montagem estreou no Festival de Curitiba, passou por São Paulo, Rio e algumas outras cidades com o apoio do SESC. Após o fim da pandemia, fiquem ligados, pois haverá mais apresentações (informação reforçada pelo assistente de direção Tomaz Nogueira da Gama). E logo estarão em Paris!
Apesar das dificuldades em conseguir montar o texto por apresentar uma linguagem chula e com características da camada do proletariado, a peça no início não foi bem aceita, até que em 1968 ela foi montada.
Segundo Beth Lammas, que esteve no elenco, René Richard Cyr conseguiu com Michel Tremblay a aprovação para a montagem musical, que estreou em 2010. Neste ano, Ariane assistiu ao espetáculo e aí aconteceu a história do convite e a escolha desse texto para ser encenado no Brasil.
Leda Ribas detalha a trama: Germana é moradora de um bairro periférico que ganha um milhão de selos premiados e reúne amigas e familiares para colar os selos e conversar. O que era pra ser um encontro amistoso, revela conflitos, ciúmes e inveja, mostrando as condições das mulheres que vivem no subúrbio e não conseguem se juntar para resolver problemas
A peça traz como pano de fundo questões contemporâneas, como opressão, repressão e desvalorização da mulher, além de falar sobre os desejos e frustrações da classe média.
Um texto no dialeto joal, que segundo Julia Carrera, que integrou a equipe de tradutores, foi difícil traduzir para o Brasil. O resultado foi de qualidade porque as falas são muito claras e as canções colaboram para o público compreender facilmente a trama.
O diretor musical Wladimir Pinheiro disse que a música foi colocada em cena como no espetáculo original. Um espetáculo musical diferente, porque é um texto dramatúrgico musicado com poesia verbal (¨As coisas são como elas são. A música faz o texto andar¨.
O elenco era heterogêneo, formado por atrizes cantoras e outras que nunca haviam cantado. Um desafio enorme, porque todas tinham que saber as falas e as canções de cor, pois elas poderiam viver qualquer uma das personagens.
A preparadora vocal, Sonia Dumont, falou da necessidade de cada rima e cada letra se encaixar nas falas, copiando a obra original, mas com adaptações necessárias na tradução para que as músicas fossem compreendidas aqui no Brasil.
Uma conversa entremeada por vídeos, com muita emoção de todos que participaram do elenco e equipe de criação.
Tiago Ribeiro, que cuidou do figurino, faz coro aos elogios a todos, salientando que foi um processo muito rico, buscando vestir a alma das personagens na apresentação de questões da problemática do universo feminino que estão presentes na peça;
Claro que expor todas as falas é impossível, mas importante é salientar a competência de todos e o quanto mergulharam no processo de criação de maneira prazerosa, segundo os relatos.
Júlia Marini salientou a importância da peça e de integrar o elenco, por tratar das questões das mulheres do mundo, que sofrem tolhidas nos seus corpos em função da religião. Com a sua experiência da menina do interior que sempre acompanhou as mazelas que acompanham a vida de muitas mulheres, criou a sua personagem.
Thallyssiane Aleixo deixou um comentário muito bonito porque interpretava uma garota que queria realizar um aborto. Fez entrevistas com mulheres para entender o que leva uma mulher a decidir por esse ato e disse que ficou emocionada por constatar que ele sempre gera sofrimento.
Ariane Oliveira de Souza, também integrante do elenco, frisou a felicidade de enquanto mulher negra estar na montagem, salientando que a peça mostrava uma miscigenação que retratava muito o Brasil onde existe muita opressão das mulheres mostra como é ser negra numa sociedade capitalista. Personagens brancas e pretas se encontram nas dores. Uma fala que tem complemento com o pensamento de Sirléa Aleixo, que vive na comunidade do Jacarezinho, no Rio, e que através do teatro conseguiu dar voz às suas inquietações e críticas sobre o cotidiano.
A atriz Iza Eirado salientou que Ariane escolheu As Comadres pois a obra fala da condição da mulher, e a sua ideia era realizar as reflexões sobre a situação da mulher no Brasil, já que esse trabalho foi idealizado para ser apresentado no país. ¨A importância principal dessa peça é afirmar a potência do feminino¨. Iza Eirado.
Também salientou que As Comadres teve o mérito de estrear no momento de posse de um presidente fascista, o que evidenciou mais ainda a importância das críticas que a peça propõe. Como Germana não quer dividir o que recebeu, ela é roubada, colocando assim a reflexão sobre o valor do coletivo.
Para Anna Paula Secco, dividir a sua personagem com outra atriz foi incrível e destacou também o coro como mais uma preciosidade da montagem.
Letícia Medella entrou para substituição e disse que ver o espetáculo de fora foi incrível, reforçou para ela o poder do coletivo e da força feminina que ele traz.
Assim como Ariane, a atriz vê a arte como verdadeira revolução e também salientou a importância da encenação no momento em que estamos vivendo na política.
¨O teatro é a realidade que eu acredito, é a realidade possível¨. Para Letícia, estar com As Comadres foi a cereja do bolo na sua trajetória no teatro, a qual é tecida desde muito pequena.
A cenógrafa Mina Quental propôs um cenário que retratasse a comunidade no Brasil, mas Ariane achou mais interessante que ele tivesse a mesma estrutura do original, para que a peça ganhasse caráter universal.
A atriz Janaína Azevedo disse que o dia mais emocionante foi quando viu o cenário, porque se sentiu acolhida. Também elogiou o trabalho e a convivência com toda a equipe.
Deolinda elogiou As Comadres pela possibilidade de aglomerar um coletivo de profissionais de muito talento e gerar empregos, impulsionando a economia e mostrando que a arte tem importância, sim, para as finanças de um país. Uma equipe formada, com muita sorte para gerar os encontros de profissionais de muita competência.

Ficha Técnica As Comadres:
Texto Original: Michel Tremblay; Versão Musical Original: René Richard Cyr; Músicas Originais: Daniel Bélanger; Supervisão Artística: Ariane Mnouchkine; Direção Musical: Wladimir Pinheiro
Elenco nas temporadas: Ana Achcar, Anna Paula Secco, Ariane Oliveira de Souza, Beth Lammas, Fabianna de Mello e Souza, Flavia Santana, Gabriela Carneiro da Cunha, Gillian Villa, Iza Eirado, Janaína Azevedo, Julia Carrera, Julia Marini, Juliana Carneiro da Cunha, Laila Garin, Leda Ribas, Leona Kalí, Letícia Medella, Lilian Valeska, Maria Ceiça, Sirléa Aleixo, Sonia Dumont e Thallyssiane Aleixo.
Musicistas: Catherine Henriques e Karina Neves; Tradução: Julia Carrera; Figurino: Tiago Ribeiro; Cenário: Mina Quental; Iluminação: Hugo Mercier; Preparação Vocal: Sonia Dumont; Letras: Wladimir Pinheiro e Sonia Dumont; Assistente de Direção: Hélène Cinque e Tomaz Nogueira da Gama
Coordenação de Produção: Ariane Mnouchkine, Fabiana De Mello E Souza, Julia Carrera e Juliana Carneiro Da Cunha. Direção de Produção: Bárbara Galvão, Carolina Bellardi e Fernanda Pascoal - Pagu Produções Culturais; Produtor executivo e diretor de palco: Fernando Queiroz; Assistente de produção: Luciano de Lima Pinto; Realização: FMS Produções




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