Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, é o primeiro encontro entre Gabriel Villela, diretor, cenógrafo e figurinista e o grupo teatral Maria Cutia. Villela reside em São Paulo, é natural de Carmo do Rio Claro, sul de Minas, e no seu sítio, situado na sua cidade natal, repõe as energias e cria também os espetáculos, em especial o figurino. O grupo Maria Cutia é de Belo Horizonte.
Ariano Suassuna, nascido na Paraíba e residente durante anos em Recife, é dos nossos grandes escritores. Auto da Compadecida é um retrato crítico e bem-humorado da nossa sociedade, sobretudo de pessoas que querem tirar vantagem, representantes do povo, do clero e da política.
Vale relembrar a trama: a peça apresenta as aventuras picarescas de Chicó e João Grilo: o público acompanha o enterro e o testamento do cachorro do Padeiro e de sua Mulher transformando-se em uma epopeia milagrosa que acontece no sertão e envolve o clero, o cangaço, Jesus, Maria e o Diabo. Até Nossa Senhora aparece!...
Chicó e João vivem de golpes para sobreviver e são perseguidos pelo cangaceiro Severino de Aracaju, um ¨cabra que não perdoa traição¨.
Auto da Compadecida traz beleza, poesia e muita música do nosso cancioneiro popular, características do Imaginai de Gabriel Villela, um diretor que acredita que o teatro, ao promover encantamento, transforma vidas, ou pelo menos contribuiu para que isso aconteça.
A montagem é crítica e diverte. A mineiridade está presente, a mineiridade que Villela carrega na alma e sempre está presente nas suas criações.
O cenário e o figurino de Villela merecem muitos aplausos. A cultura popular reina com maestria, com uma ambientação que reverencia o picadeiro do circo-teatro, com a luz do nosso interior, com as suas quermesses e procissões.
Auto da Compadecida apresenta a paródia e estruturas brechtianas de modo exemplar, com a história narrada pelos atores e o público com a função de imaginar e tirar as suas próprias reflexões a partir da encenação apresentada. Uma leitura cênica que preserva o conteúdo do texto e também coloca em cena questões atuais, como as eleições que estão por vir e de forma sutil e criativa, a administração de um governo federal que repudia a cultura.
As viagens voltaram e o Sesc São Carlos e o Sesc Piracicaba, no interior de São Paulo, receberam o espetáculo e merecidamente as sessões estavam lotadas.
O bloco do Maria Cutia termina a apresentação de forma apoteótica e o público segue os atores para uma pequena celebração musical. Eu quero é botar o meu bloco na rua, de Sergio Sampaio, e América do Sul, de Paulo Machado, estão entre as pérolas da trilha sonora.
HUGO DA SILVA – CHICÓ
¨O espetáculo estreou muito próximo da pandemia. Viajamos bastante e tivemos que parar durante dois anos. Se por um lado foi muito difícil parar, voltar está sendo muito bom porque a peça fala muito da nossa situação política. É um texto da década de 50 e muito próximo dos nossos dias, o que é um sintoma ruim, mas que bom que podemos trazer Ariano Suassuna de um jeito mineiro e junto com Gabriel Villela. Foi um encontro maravilhoso com Villela e voltar com esse espetáculo em ano de eleição, com os nervos à flor da pele, é ótimo¨.
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POLYANA HORTA - ANTÔNIO MORAIS E O BISPO
¨Eu gosto muito de vir a São Paulo e estar no Sesc porque aqui respiramos cultura. É bonito ver como o Sesc é agregador, a gente vê todos os tipos de pessoas. A apresentação em Piracicaba foi emocionante porque a plateia estava ¨super dentro do espetáculo¨. Fazer esse espetáculo nesse momento é superimportante para mostrarmos para as pessoas o quanto a cultura é relevante. O teatro tem o papel de preservar a cultura o máximo possível¨.
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LEONARDO ROCHA – JOÃO GRILO
¨Conseguimos resolver o problema da acústica já que a apresentação foi no ginásio de Sesc Piracicaba e foi uma volta muito bacana às viagens nesse momento de eleição.
Adoramos fazer o espetáculo porque ele é muito irônico, porque o texto do Suassuna é muito político. É uma delícia fazer o Auto da Compadecida, fizemos em São Carlos e agora em Piracicaba com o teatro cheio¨.
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MARCELO VERONEZ - PADRE JOÃO E O DIABO
¨É bom voltar a fazer o espetáculo e percorrer cidades que não conhecemos e conhecer pessoas. É bom encontrar com pessoas que concordam com o nosso pensamento e saber que estamos no caminho certo. Tomara que eu possa falar tudo isso daqui a dois anos sobre o nosso trabalho¨.
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DE JOTA TORRES - PALHAÇO, PADEIRO E MANUEL (NOSSO SENHOR JESUS CRISTO)
É uma alegria imensa poder voltar ao teatro após os anos conturbados pelos quais passamos. É interessante perceber como o teatro só acontece na presença do público, nós precisamos muito dele para que a magia possa acontecer de fato. É uma gratidão imensa ter contato com as pessoas e perceber que elas também estão querendo dizer algo sobre esse momento político que estamos vivenciando, um momento complicado e com o país quase colapsando... Apesar de tudo, não podemos perder a alegria e com esse espetáculo conseguimos falar de assuntos importantes com leveza e alegria. Fazer teatro é muito importante e é importante também que as pessoas voltem a frequentar os teatros
DICAS
Em Piracicaba alguns passeios imperdíveis: o Sesc Teatro e Comedoria, o Engenho (tem teatro) - lugar histórico incrível, o Museu da Água (estava fechado – verificar se voltou a funcionar), a Rua do Porto, o Mercado Municipal, a Avenida Beira Rio, tem um elevador que leva o visitante a um mirante, mas estava fechado – verificar se voltou a funcionar.
Em especial, o Bairro Monte Alegre, que surgiu no século 19 com a chegada dos imigrantes para trabalhar na usina de cana-de-açúcar – pertinho da Esalq - Universidade de São Paulo - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz".
O mais lindo pôr do sol.
São bairros de Piracicaba, de imigrantes italianos: Bairro Santana – Festa do Vinho e Bairro Santa Olímpia – Festa da Polenta – Café Tirol aos finais de semana http://www.cafetirol.com.br/
A Padaria do Vovô, da Av. Armando Césare Dedini, 444, bairro Nova Piracicaba (tem várias). Onde almoçar e jantar (posso dar dicas inbox).
O Salão do Humor de Piracicaba sempre ocupa uma sala do Engenho. Artistas de grande talento.
Piracicaba é uma linda cidade. Se o rio fosse limpo, seria perfeita!
Elenco:
Leonardo Rocha – João Grilo
Hugo da Silva – Chicó e Severino do Aracaju
Mariana Arruda – Mulher do Padeiro e Nossa Senhora Compadecida
Dê Jota Torres – Palhaço, Padeiro e Manuel (Nosso Senhor Jesus Cristo)
Thiago Queiroz – Sacristão
Marcelo Veronez – Padre João e O Diabo
Polyana Horta – Antônio Morais e O Bispo
Concepção e Direção: Gabriel Villela
Assistente de Direção: Lydia Del Picchia
Preparação Vocal: Babaya
Direção Musical: Babaya, Fernando Muzzi e Hugo da Silva
Cenário e Figurino: Gabriel Villela
Assistente de Figurino: José Rosa
Coordenação do Ateliê Gabriel Villela: José Rosa
Pintura de Arte: Rai Bento
Iluminação: Richard Zaira e Pedro Paulino (CiaTecno)
Consultoria de Sonorização: Vinícius Alves
Fotografia: Tati Motta
Produção: Lucas Prado e Aris Serranegra
Coordenação Produção: Luisa Monteiro - Grupo Maria Cutia
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