Proto Henrique IV estreia na forma on-line com direção de Gabriel Villela
Chico Carvalho está em cena como o protagonista
O teatro está voltando. Ainda existem as experimentações on-line e muitos trabalhos estão acontecendo na forma híbrida - presencial e on-line.
O teatro volta a cumprir a sua função de encantamento e reflexão e mais especificamente, o ¨teatro de Gabriel Villela¨ traz um imaginai que tem como ponto central a magia, na medida em que o diretor, cenógrafo e figurinista mineiro acredita que o teatro transforma e com poesia, magia e beleza. Essa transformação ocorre de maneira que o espectador tenha encantamento e prazer em frequentar as salas de espetáculos.
Villela e o produtor Claudio Fontana já estavam com o projeto da encenação do texto Henrique IV, de Luigi Pirandello, muito bem encaminhado, com elenco pronto para os ensaios.
Quem acompanha a trajetória de Villela e de Fontana sabe que tudo é elaborado com muita antecedência e o cuidado com os mínimos detalhes para a criação de um espetáculo é regra essencial.
Com a pandemia, o projeto foi adiado e agora ele será realizado em dois momentos: o primeiro - a peça apresentada on-line, via youtube, com inscrições para assistir através da plataforma Sympla, de forma enxuta, e no ano que vem, com o elenco completo e presencial..
Nessa segunda encenação de Gabriel Villela de uma obra de Pirandello (o diretor já dirigiu Os Gigantes da Montanha com o Grupo Galpão), o teatro mais uma vez é recheado de delicadeza, característica, aliás, essencial nas criações desse artista mineiro (Delicadeza na arte e na maneira que Villela e Fontana tratam a sua equipe de profissionais).
Em Henrique IV, toda a delicadeza do "teatro de Gabriel Villela" reforça o dualismo realidade e loucura presente no texto, um ensaio sobre lucidez e loucura que é considerado uma obra-prima do dramaturgo.
Pirandello tem como característica de criação a apresentação de tramas que exploram o tênue limite entre ficção/ realidade, loucura/ sanidade, evidenciando a vulnerabilidade humana e o jogo de máscaras que muitas vezes guia as ações cotidianas.
Henrique IV aprofunda todas essas questões, que são abordadas por exemplo na famosa peça de Pirandello intitulada Seis personagens à procura de um autor, e coloca em pauta a inexistência da verdade absoluta.
Na trama, um jovem nobre começa a acreditar que é de fato o imperador que dá nome à peça. Esse homem descobre que Matilde, a mulher que ele ama, tem um caso com seu melhor amigo Belcredi. Henrique IV sofre um acidente, supostamente provocado pelo próprio Belcredi, bate a cabeça numa pedra e perde os sentidos. Ao acordar, como ele está a caminho de uma festa à fantasia, caracterizado como o rei Henrique IV, da Alemanha, passa a acreditar que é o próprio rei. Começa a ser visto como um louco pela sociedade.
A realidade vem à tona um tempo depois, com a visita de Matilde e o seu amante. Um grave incidente faz com que Henrique IV precise mergulhar para sempre no universo fake que fora criado pela sua irmã, um cenário que reproduz a corte de um rei.
A ilusão ganha ares de mundo real "para todo o sempre".
Chico Carvalho é o protagonista, selando com Villela e Fontana a sua quinta parceria (as anteriores, Estado de Sítio, de Albert Camus; Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues; Peer Gynt, de Henrik Ibsen e A Tempestade, de William Shakespeare.
A versão original de Henrique IV traz 13 personagens ao todo, mas nesse trabalho estão em cena apenas dois personagens, Matilde e Henrique IV, interpretados por Carvalho. Também estará no palco o ator Breno Manfredini, como um contrarregra/camareiro cênico .
A adaptação de Claudio Fontana, que cuida também da produção e assina a tradução, teve como meta manter a essência da obra e evidenciar as reflexões propostas pelo autor sobre aparência, loucura, sanidade e verdade, que acoplam a vida cotidiana e também a utilidade da arte, o valor da criação artística.
Para Pirandello, a arte é mais real do que a vida, a arte pode ser eternizada através de uma forma, já o ser humano tem o seu tempo de vida limitado.
A arte pode ser eternizada e traduzir com perfeição detalhes do caráter humano que não são compreensíveis por quem está mergulhado no cotidiano, muitas vezes sem nenhum atrativo.
O que gostaríamos de ser e o que somos na realidade (ou podemos ser?). Como os outros nos veem reflete realmente a nossa personalidade, ou não somos nada do que elas imaginam que somos? Aceitar a vida como ela é nem sempre é fácil, muitas vezes viver num mundo de aparências é bem mais atrativo! Eis algumas reflexões que o texto pode nos proporcionar...
A obra foi escrita em 1922 num momento em que a modernidade colocava em xeque tradições, com a explosão da Primeira Guerra Mundial e do avanço tecnológico. Lidar com mudanças e conviver de acordo com normas sociais muitas vezes é um fardo e viver sob a máscara da loucura pode ser mais aprazível.
Tal reflexão pode ser suscitada a partir do momento em que o falso Henrique IV recupera a memória, mas continua num mundo de ilusões.
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NOTA DO ADAPTADOR/TRADUTOR/PRODUTOR Cláudio Fontana - O projeto Henrique IV, de Pirandello, foi aprovado em 2019 pelo Programa Cultural das Empresas Eletrobras através da Lei Federal de Incentivo à Cultura recebendo 20% do total do valor necessário para a produção. O projeto também obteve um apoio da 2S Inovações Tecnológicas. Em 2020, o projeto estava em negociações para sua temporada quando a pandemia paralisou o setor cultural. Em 2021, a Secretaria Especial de Cultura determinou o prazo de execução do projeto até 31/12/2021. Com as restrições sanitárias e os teatros fechados, optou-se por adaptar o texto para 2 personagens e 1 ator, substituindo os 13 atores do texto original. PROTO-HENRIQUE IV é o resultado dessa adaptação, que está servindo como estudo e pesquisa para a montagem do texto de Pirandello na íntegra com elenco completo em 2022.
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