Ubu Rei
De Alfred Jarry
Direção, cenário e figurino Gabriel Villela
No palco, o excelente grupo Os Geraldos.
Talento e profissionalismo, muito estudo e tudo feito com esmero nos mínimos detalhes. Quanto mais assistimos, mais descobrimos relíquias cênicas.
As cores que retratam um país tropical. A cara de pau de muitos políticos, a hipocrisia e a ganância que causa o caos. Por trás "dos panos" a depravação, a moral e a ética no lixo, na frente dos holofotes" : Deus, Pátria e família".
Polônia ou Brasil? A resposta é óbvia, afinal a nossa Nação é abençoada por Deus e bonito por natureza...será mesmo?!
Na peça, a Polônia é a sede dos mais terríveis planos para Pai e Mãe Ubu assumirem o poder.
Bom, sabemos que a Polônia não tem nada de "tropicalidade"... simbolismos para falar, portanto, de nossa atualidade.
A ânsia pelo poder infelizmente é algo universal. Ubu consegue o poder e trai os seus aliados. Todos são seres grotescos. Matar e explorar o próximo é horripilante e grotesco.
Nunca o político brasileiro foi tão bem retratado.
Ubu Rei foi uma peça escrita em 1888 e a alegoria do político sem escrúpulos cai como uma luva para falar do Brasil atual.
A criatividade de Villela é infinita, cor, crítica, anarquia, poesia, talento; talento do diretor, dos atores, da equipe toda.
Farsa, inspiração no circo, melodrama, com poesia, humor e simbolismos. O feio é a escolha estética para falar de seres abomináveis, mas o imaginai de Villela nunca deixa de lado momentos poéticos. A poesia para dar voz à dor de um mundo carente de amor e respeito ao próximo. A ideologia de extrema direita cada vez mais ganha força e a arte é o meio para um grito por um mundo melhor.
Ubu Rei é uma das mais instigantes criações de Villela. Nos faz viajar no mundo mágico da imaginação de uma maneira instigante e encantadora. Um sapato pode virar uma moto, asas de um arcanjo... a banana tão deliciosa e tropical está no cenário e tem função cênica...uma cadeira de rodas também ganha uma função cênica muito bacana (contar mais detalhes tira do público o encantamento da surpresa).
A música é elemento essencial para a ação conduz e complementa a ação. Pérolas como Cartomante, Disparada, Homem com H, Carcará causam encantamento.
A musicalidade dá o tom farsesco às cenas. Música tocada ao vivo pelo Everton Grenari (que assina a direção musical com Babaya) e cantada pelos atores, é um luxo.
O visagismo de Claudinei Hidalgo, o figurino de Villela e os adereços, primorosos, acentuam o grotesco e impulsionam a imaginação para o público sair do teatro mexido com a fábula contada no palco.
A luz de Ivan Andrade emoldura a ficção, ficção com ares de mundo real porque os artistas são geniais na captura das benesses, maravilhas e mazelas humanas.
"Um espetáculo necessário", como bem disse o apresentador Zeca Camargo; "um espetáculo anárquico, belíssimo e divertido", nas palavras do ator e produtor Cláudio Fontana. O público aplaude fervorosamente. O teatro está lotando, merecidamente, em todas as sessões.
A essência do teatro, que é imaginar, a única mentira aceitável, está no teatro de Gabriel Villela. A valorização da cultura popular, do circo. Teatro para diversão e reflexão, aprimoramento do conhecimento de um modo prazeroso.
Até 12 de março no Sesc Consolação
www.sescsp.org.br
|