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Riobaldo, monólogo de Gilson de Barros, com direção de Amir Haddad, chega a São Paulo
Publicado em 15/03/2022, 19:30
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Riobaldo, monólogo de Gilson de Barros, com direção de Amir Haddad, chega a São Paulo
A temporada é presencial no Teatro Sérgio Cardoso, após elogiosas críticas e indicações de melhor espetáculo de 2021 no Rio.
Com direção de Amir Haddad, a peça apresenta um recorte sobre os amores do ex-jagunço, Diadorim, Nhorinhá e Otacília.

“Riobaldo” estreou em março de 2020, no Espaço Cultural Sérgio Porto, RJ. Uma semana depois, teve a temporada cancelada em decorrência da pandemia. O ator realizou apresentações do monólogo por meio de lives, e foi pioneiro nas apresentações virtuais. Voltou ao cartaz em 2021 no Rio e essa é a primeira temporada paulistana da montagem.


SINOPSE
O personagem central do romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, o ex-jagunço Riobaldo relembra seus três grandes amores: Diadorim, Nhorinhá e Otacília. O incompreendido amor homossexual por Diadorim, o amigo que lhe apresentou a vida de jagunço e lhe abriu as portas do conhecimento da natureza e do humano, levando-o ao pacto fáustico; o amor carnal e sem julgamentos pela prostituta Nhorinhá e o amor purificador por Otacília, a esposa, que o resgatou do pacto fáustico e o converteu num ‘homem de bem’.

Gilson de Barros é ator, gestor, dramaturgo e apaixonado pelo que faz.

Estudou na UNIRIO, Bacharelado em Artes Cênicas. Trabalhou com diretores expoentes, como Augusto Boal, Luiz Mendonça, Mário de Oliveira, Domingos Oliveira e o próprio Amir Haddad com o qual estabeleceu parceria artística em Riobaldo.

Barros fala sobre a sua trajetória no teatro e sobre esse espetáculo.

Nanda Rovere - Fale um pouco do seu contato com a obra de Guimarães, a adaptação para o monólogo e o personagem Riobaldo.
Gilson de Barros - O meu primeiro contato com a obra foi aos 18 anos e fiz um espetáculo chamado Imagens do Sertão, colagens dos Livros Os Sertões, de Euclides da Cunha, Grande Sertão Veredas e Morte e Vida Severina, do João Cabral de Melo Neto. A pessoa que fez a adaptação do livro para o teatro, um professor de literatura, me deu a obra do Guimarães de presente e eu estudei a minha cena, que era o julgamento de Zé Bebelo. O livro ficou comigo e eu sempre lia algumas partes. Só fui ler a obra inteira bem mais tarde. Há cerca de seis anos me aposentei e resolvi continuar trabalhando como ator. Aí que surgiu a ideia de adaptar o Grande Sertão Veredas para o teatro

A adaptação:
Peguei o livro e um arquivo na internet e guardei no computador partes de textos que já havia marcado e frases soltas, como um mosaico. Depois, busquei dar uma unidade - os amores de Riobaldo. Durante praticamente dois anos fiz leituras para amigos e grupos de literatura para ouvir as opiniões. Quando considerei o texto maduro, aí comecei a entrar em contato com Amir Haddad, que leu, gostou e aceitou assumir a direção, um mestre. Agora não estava mais sozinho no processo.
Esperava a criação de um espetáculo com luzes e som, mas logo no primeiro ensaio Amir sugeriu que eu ficasse sentado contando a história. Aquilo me #pirou# e o processo foi doloroso porque Amir é radical e genial. Com ele não tem mais ou menos. Demorei para entender como seria a realização de uma interpretação narrativa porque a nossa tradição de interpretação é dramática, e para conseguir realizar tudo o que Amir estava propondo eu apanhei muito. Com a ajuda de muitos colegas, como a Clarice Niskier, acho que entendi a proposta e agradeço muito. Ficar sentado e dar foco ao texto do Guimarães está dando super certo. Além disso, fica muito fácil rodar com o espetáculo pelo Brasil.

NR - Guimarães é o nosso Brasil, a cultura interiorana, e você reside no Rio, capital…como você lida com o mundo urbano e a magia cativante do nosso interior, da roça?
GB - Para quem mora na cidade é difícil entender o Sertão. Conheço Cordisburgo e o caminho que Guimarães fez. No início, tentei fazer sotaque mineiro, mas ficou falso e entendi que esse não era o caminho. Busquei a alma do Grande Sertão Veredas e o que tem de humano na história entre Riobaldo e Diadorim. E, mesmo sem fazer sotaque, as pessoas vêem as paisagens a partir da minha narrativa, e isso é uma honra pra gente.
Adaptar a prosa ¨Roseana¨ é não ter pena de adaptar. Não me julgo adaptador, sou um ator que quer fazer teatro e estou sempre mexendo no texto. É uma dramaturgia em processo.
Além da palavra sofisticada, o texto é rebuscado e isso pra literatura é maravilhoso. Já no teatro, como precisei condensar a história em cerca de uma hora e transformá-la em um monólogo, eu reduzi as falas sem enxugar o conteúdo, pois isso seria um crime. Tentei evitar também palavras difíceis de entendimento, porque quero pegar as pessoas que não têm o costume, nem tempo, de ler, para que todos sintam o Rosa no coração.

NR - E a parceria com Amir Haddad? Como foi esse encontro?
GB - Amir é um anjo, que respira teatro 24h por dia. Eu ganho mais do que dou, aprendo muito com ele. Ele tem um jeito de falar e fazer teatro especial. Ele não diz como fazer, ele abre o nosso coração. Ele me dá muita forma nessa peça. Sou produtor, não tenho patrocínio e às vezes perco a energia, e aí ele me anima e diz que o espetáculo está lindo. Amir tem uma energia enorme e me recolocou no palco, pois sempre foi um ator bissexto. Me dediquei à atuação, depois casei, tive filhos e trabalhei anos na Prefeitura do Rio, gerenciando espaços culturais. Fui gestor do Parque das Ruínas por 13 anos, o meu último emprego. De vez em quando eu fazia uma peça e tive a oportunidade de trabalhar com grandes atores, mas a parceria com o Amir é mais do que artística; hoje o considero um grande amigo e gosto muito da família dele também. Temos uma boa sinergia e isso não é privilégio meu. Todo mundo que trabalha com ele tece muitos elogios a ele. Amir não faz teatro, Amir vive para o teatro.

NR - E como foi o seu encontro com Augusto Boal?
GB - Fiz uma participação em uma peça dele.
Substituí um colega por pouco tempo. É um grande mestre (pois as obras dele continuam vivas). Tive com Boal uma parceria política: coordenei o Projeto Lonas Culturais, que serviram para a Eco 92 no Aterro do Flamengo e nós lutamos para que elas servissem de espaços culturais no subúrbio. Foi um processo longo de batalha política. Fechávamos a Avenida Brasil colocando fogo em pneus e ninguém dava força pra gente. Quem deu total apoio foi o Boal, que era vereador na época. Foi o primeiro grande artista a apoiar esse projeto. Eu integrava o movimento chamado Macaco – Movimento de Arte Alternativa Comunitária e Organizada. O Boal adorou o nome e pegava uma kombi com todo o pessoal do Centro do Teatro do Oprimido e participava das nossas reuniões em Bangu até altas horas da noite. Quando trabalhei com ele não nos tornamos amigos, mas após essa parceria nos tornamos amigos. Quando a Lona começou a funcionar, consegui levar de São Paulo o Grupo União e Olho Vivo e o seu fundador Cesar Vieira. O Boal foi lá e fizemos uma #pajelança”. Boal foi um homem da maior dignidade.

NR - Você apresentou Riobaldo de forma on-line. Como foi a experiência? Teve que mudar algo na concepção do espetáculo para as apresentações presenciais?
GB - A peça estreou em 7 de março de 2020 no Espaço Cultural Sergio Porto e na semana seguinte foi decretado o fechamento dos teatros. Estávamos com uma ótima quantidade de público e estávamos, eu e Amir, num ritmo frenético de ensaios. Propus para Amir me dirigir numa live com trechos da peça e ele aceitou. Foi uma viagem! 120/150 pessoas nos assistiam, viam o nosso ensaio. Essa experiência valeu muito porque eu nunca tinha interpretado para a câmera, aprendi a jogar no coração de quem assiste. Terminamos a temporada que estava prevista para ser presencial de forma on-line. Fui o segundo artista a fazer esse trabalho e a plateia que eu não tinha no teatro, pois não sou famoso, eu tive no formato virtual. Fui visto por pessoas da Alemanha, Inglaterra, França, Argentina, do Brasil todo...foi um barato e fiz três temporadas. Não precisei mudar muita coisa na peça para adaptá-la. Quando olho na bolinha do celular para fazer a apresentação virtual, eu olho para o espectador que está me vendo na tela do mesmo jeito que olho para a pessoa que está na plateia do teatro.
Em decorrência da experiência virtual, a partir da terceira semana de temporada no teatro Sergio Cardoso, em São Paulo, eu vou filmar para quem queira assistir à peça de forma virtual por um preço baixo.

NR - Acredita que as apresentações on-line vieram para ficar?
GB - Acredito sim que as experiências on-line vieram para ficar. Cada um vai achar maneiras de utilizar as ferramentas. Creio que peças com muito movimento e muitos atores em cena não funcionam bem nesse formato, mas como eu estou sozinho em cena e é preciso somente uma ou duas câmeras para a filmagem, a dinâmica funciona super bem. Creio que chegou para ficar, mas o meu desejo é fazer sempre presencial (é onde o teatro acontece porque tem a presença do público que dá o feedback e constrói e reconstrói o espetáculo com a sua energia).

NR - Qual o papel do teatro na sua vida?
GB - Como te falei, vivi alguns anos como ator, e quando se é jovem dá para se viver com qualquer salário. Aí me casei, comecei a trabalhar como gestor e quando algum diretor me chamava para atuar, como Domingos de Oliveira, por exemplo, não tinha como dizer não. Como qualquer pessoa, ao me aposentar, comecei a pensar no meu futuro e decidi produzir e ser feliz. Depois que a pandemia arrefeceu um pouco, no segundo semestre de 2021, apresentei Riobaldo no Rio, na Casa de Cultura Laura Alvim, na Cidade das Artes e no Teatro Gláucio Gil, e consegui manter a equipe técnica e ganhar um dinheirinho. O teatro é a minha vida, onde eu quero ganhar dinheiro e ser feliz. Quero fazer teatro, cinema, TV. Eu quero viver como ATOR. Estou muito feliz com a temporada no Sergio Cardoso.

FICHA TÉCNICA
A partir do livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa
Adaptação e atuação: Gilson de Barros
Direção: Amir Haddad
Cenário e figurinos: Karlla de Luca
Iluminação: Aurélio de Simoni
Programação visual: Guilherme Rocha e Mikey Vieira
Fotos e vídeos: Renato Mangolin
Técnicos: Carlos Henrique Pereira / Mikey Vieira
Produção: Barros Produções Artísticas Ltda.
Mídias Sociais: Fernanda Nicolis
Assessoria de imprensa: Júlio Luz (Rio) e Adriana Monteiro em São Paulo

Serviço:

Riobaldo
Local: Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno (Rua Rui Barbosa, 153 - Bela Vista)
Temporada: De 11 de março a 10 de abril, sexta a domingo, às 19h.
Ingressos: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia entrada)
Compras pelo site https://site.bileto.sympla.com.br/teatrosergiocardoso/
Duração: 65 min
Classificação indicativa: 16 anos
Capacidade: 144 lugares

SOBRE GILSON DE BARROS

Participou como ator de mais de 25 peças. Algumas: Bolo de Carne, de Pedro Emanuel e direção de Yuri Cruschevsk; Murro em Ponta de Faca, texto e direção de Augusto Boal; Ópera Turandot, com direção de Amir Haddad; Os Melhores Anos de Nossas Vidas, texto e direção de Domingos de Oliveira; Da Lapinha ao Pastoril, texto e direção de Luís Mendonça; A Tempestade, de Shakespeare, direção de Paulo Reis e O Boca do Inferno, texto de Adailton Medeiros e direção de Licurgo. Ganhou ainda o prêmio de Melhor Ator no Festival Inter-regional de Teatro do Rio – 1982 e prêmio de Melhor Ator do Festival de Teatro – SATED/RJ – 1980.


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DE OLHO NA CENA BY NANDA ROVERE - TUDO SOBRE TEATRO, CINEMA, SHOWS E EVENTOS Sou historiadora e jornalista, apaixonada por nossa cultura, especialmente pelo teatro.Na minha opinião, a arte pode melhorar, e muito, o mundo em que vivemos e muitos artistas trabalham com esse objetivo. de olho na cena, nanda rovere, chananda rovere, estreias de teatro são Paulo, estreias de teatro sp, criticas sobre teatro, criticas sobre teatro adulto, criticas sobre teatro infantil, estreias de teatro infantil sp, teatro em sp, teatros em sp, cultura sp, o que fazer em são Paulo, conhecendo o teatro, matérias sobre teatro, teatro adulto, teatro infantil, shows em sp, eventos em sp, teatros em cartaz em sp, teatros em cartaz na capital, teatros em cartaz, teatros em são Paulo, teatro zona sul sp, teatro zona leste sp, teatro zona oeste sp, nanda roveri,

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