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Entrevistas e dicas de espetáculos

O diretor de teatro Gabriel Villela acabou de estrear o espetáculo Ubu Rei, com o Grupo Os Geraldos de Campinas
Publicado em 10/11/2022, 19:30
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MÃE UBU∞Se eu fosse você, eu metia essa bunda num trono.
Você podia enriquecer infinitamente, comer linguiça o dia inteiro e
ostentar sua carruagem pela cidade.

O diretor Gabriel Villela deixa a sua criatividade fluir sem amarras,
com a imaginação infinita de um artista que estuda muito e possui
um talento enorme.
O seu imaginai não tem limites e está pautado num grande
conhecimento da história do teatro, dos movimentos artísticos e da
percepção sensível da realidade em que vivemos.
Como grande admiradora e pesquisadora da sua trajetória, escrevo
um texto com observações sobre o seu trabalho, mas não o chamo
de observações crìticas porque Villela desperta-me uma emoção e
um encantamento tão grande que se deixasse de lado toda a minha
admiração, não conseguiria tecer considerações sobre mais uma
realização desse artista mineiro, o espetáculo Ubu Rei.

As observações:

O artista tem uma sensibilidade aguçada e tem a capacidade de
colocar em voga problemas urgentes para a sociedade,
aprimorando o senso crítico do indivíduo, tratando de problemas
universais e explorando a alma humana.
O diretor de teatro Gabriel Villela acabou de estrear o espetáculo
Ubu Rei, com o Grupo Os Geraldos de Campinas.
A trama é simples e muito bem construída: o pai Ubu, impulsionado
por sua esposa Mãe Ubu, arquiteta a morte do Rei da Polônia para
assumir o trono.
A sede de poder é enorme e tudo vale em nome do dinheiro e da
ambição desenfreada. É um homem covarde, um anti-herói que
certamente é um dos personagens mais deploráveis da dramaturgia
mundial e, por isso mesmo, instigante por colocar em evidência o
quanto o ser humano pode ser digno de lástima.

Assim que consegue realizar o seu desejo, Ubu mostra o quanto é
mesquinho e trai todos que o apoiaram. É um ser nojento, grotesco.
A peça Ubu Rei foi escrita em 1896 e Pai Ubu é a alegoria do
político estúpido, sem brios, num texto que traz referências de
Shakespeare, especialmente da peça ‘Macbeth’, com a figura de
Lady Macbeth, que assim como a Mãe Ubu é quem induz o marido
a conspirar contra o Rei e conquistar o poder.
O protagonista encarna a alegoria do político estúpido,
intratável, que se torna rei trapaceando e governa na base de
atrocidades contra o povo e aliados. A tradução é dos irmãos
Bárbara e Gregório Duvivier.
Villela e Os Geraldos carregavam o desejo de levar Ubu Rei ao
palco faz um tempo e o momento para a estreia não poderia ser
mais propício: eleições presidenciais onde o que estava em jogo era
a democracia ou o desrespeito, o preconceito, o descaso, usando
em vão o nome de Deus e pregando uma moral pautada pela
hipocrisia.
A estreia ocorreu, portanto, num momento muito especial do nosso
país e essa peça mostra o quanto o artista está plugado na
urgência que um tema merece ser explorado.
Ubu Rei é o segundo encontro profissional entre Villela e Os
Geraldos. Enquanto Cordel do amor sem fim, de Claudia Barral,
prima pela poesia e o encantamento, com a delicadeza típica do
imaginai do diretor, Ubu Rei leva para o palco o grotesco que é
característica dos personagens, com cenas em que a falta de
qualquer senso de pudor dos personagens é mostrada de uma
maneira sarcástica e divertida.
São personagens que além de carregarem consigo um caráter vil
em todas as ações que cometem, têm um linguajar vulgar.
A opulência visual, sempre presente nos trabalhos de Gabriel
Villela, é marcante também em Ubu Rei. Além da direção, o artista
assina o cenário e o figurino.
O cenário recheado de simbologias, a música (a trilha sonora é
sempre essencial no imaginai do diretor e desta vez traz pérolas
como Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros; Homem
com H, de Antônio Barros; Canção da Despedida, de Geraldo

Azevedo e Geraldo Vandré; Bella Ciao; Todo Menino é um Rei, de
Nelson Rufino). Os figurinos são belos e também recheados de
simbologias.
Referências étnicas e tribais nos conectam com os absurdos
cometidos em nome do poder e do desenvolvimento: invasão de
terras indígenas, desmatamentos e por aí vai...Detalhes estilizados
e que trazem para o palco influências do universo circense que
Villela traz na alma, evidenciam o tom sexual e escrachado que
muitas cenas contém.
O ¨Brasil tropical, abençoado por Deus, bonito por natureza¨ está
presente nessa encenação de uma maneira inteligente, que fala das
mazelas do poder e o quanto o ser humano chega ao fundo do poço
da insensatez em nome de uma ganância desprezível!
Villela homenageia os mortos de Covid no Brasil e os seus
familiares, especialmente os manauenses e manauaras, ponto mais marcante da sua
cenografia.
O modo de falar de políticos conhecidos também merece atenção.
Logo de cara é possível reconhece-los e perceber a crítica contida
nas suas aparições em cena.
O autor dessa peça, Alfred Jarry, foi dramaturgo, romancista, poeta,
e inventou a Patafísica (¨ciência das soluções imaginárias), causou
furor em Paris com Ubu Rei, cuja estreia não lhe deu o sucesso
imediato, mas futuramente a sua obra influenciou os
artistas surrealistas, dadaístas e o chamado Teatro do Absurdo.
Villela explorou com precisão o universo de Jarry, criando um
espetáculo anárquico, debochado, divertido, crítico, sem deixar de
lado a poesia, a qual está presente, por exemplo, na cena em que
evoca a situação complicada da Itália com a ascensão de uma
primeira ministra que tem grande simpatia pelo fascismo.
Acreditamos que somos evoluídos diante de tantos avanços
tecnológicos, mas estamos numa era sombria, onde a ganância
pelo desenvolvimento a qualquer custo nos levou a uma destruição
enorme do meio ambiente e em pleno século XXI vemos núcleos
neo-nazistas se espalhando pelo mundo e a brutalidade cada vez é
assunto dos meios de comunicação, seja através de palavras ou via
atos racistas, homofóbicos e misóginos.

O Ubu e a sua família são patéticos. Como disse Oswald de
Andrade, a antrofofagia nos une¨ e a estupidez crônica, cotidiana,
pode nos levar ao fundo do poço.
A Polônia é a metáfora do Brasil e de todos os lugares em que a
política estiver contaminada por seres que não têm empatia alguma.
Ubu é um espelho certeiro da nossa realidade, uma realidade que
pode ser mudada através do poder que a arte tem de transformar o
mundo.
A arte é um meio de salvação do caos e o imaginai de Gabriel
Villela está mais aguçado do que nunca para proporcionar ao
espectador diversão e reflexão com muita competência.
O diretor tem uma criatividade infinita e as cenas fluem de maneira
deliciosa, com a interpretação de atores de muito talento.

Sobre Os Geraldos:
O grupo “Os Geraldos” já apresentou seu repertório em mais de
70 cidades de nove estados brasileiros, além de festivais nacionais
e internacionais em países como Marrocos, Argentina e Peru.
Recebeu 43 prêmios e, em 2017, foi indicado ao Prêmio
Governador do Estado, na categoria Territórios Culturais, reflexo do
intenso trabalho formativo que desenvolve em paralelo à criação e
circulação de seus espetáculos, contribuindo para o
desenvolvimento de artistas e grupos teatrais, sobretudo no interior
paulista.

Sobre Gabriel Villela:
Antônio Gabriel Santana Villela (Carmo do Rio Claro, 1958) é
um diretor de teatro, cenógrafo e figurinista brasileiro. Dirigiu
mais de 50 espetáculos entre adultos e infantis.
Estudou Direção na Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA-USP).
É diretor, cenógrafo e figurinista. Iniciou sua carreira
profissional em 1989 com “Você vai ver o que você vai ver”,
de Raymond Queneau, e o “Concílio do Amor” de Oskar

Panizza. Desde então, recebeu prêmios Molière, Prêmios
Sharp, Prêmios Shell, Troféus Mambembe, 5 Troféus
APCA, Prêmios APETESP, Prêmios Panamco, entre
outros. Encenou Heiner Muller (Relações Perigosas),
Calderón de la Barca (A Vida é Sonho) William
Shakespeare (Romeu e Julieta, Ricardo III, Macbeth),
Nelson Rodrigues (A Falecida e Vestido de Noiva), Arthur
Azevedo (O Mambembe), Strindberg (O Sonho), João
Cabral de Melo Neto (Morte e Vida Severina). Dirigiu a
trilogia de musicais do Chico Buarque para o TBC: “A
Ópera do Malandro”, “Os Saltimbancos” e “Gota D’Água”.
Dirigiu também “A Ponte e a Água de Piscina”, de Alcides
Nogueira. Dirigiu shows, musicais, óperas, dança e
especiais para TV. Foi Diretor Artístico do Teatro Glória /
RJ (1997/99) e também do TBC em SP
(2000/2001). Tornou-se um dos mais renomados diretores
teatrais com reconhecimento internacional, sendo
convidado a participar de Festivas nos EUA, Europa e
América Latina. Com o Grupo Galpão (“Romeu e Julieta”,
“A Rua da Amargura” e “Os Gigantes da Montanha”),
Gabriel foi convidado para a temporada no Globe Theatre,
em Londres, conquistando a crítica e o exigente público
londrino.
Seus últimos trabalhos foram Henrique IV, de Pirandello –
tradução e produção de Claudio Fontana – 2022; Proto
Henrique IV, exibição on-line e apresentado ao vivo direto
do Teatro Ruth Escobar/SP; e Estado de Sítio, de Albert
Camus, também produzido por Fontana, o qual esteve em
cena como A Morte – 2018/2019.

Foto de @stelauria.foto e Claudinei Hidalgo

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DE OLHO NA CENA BY NANDA ROVERE - TUDO SOBRE TEATRO, CINEMA, SHOWS E EVENTOS Sou historiadora e jornalista, apaixonada por nossa cultura, especialmente pelo teatro.Na minha opinião, a arte pode melhorar, e muito, o mundo em que vivemos e muitos artistas trabalham com esse objetivo. de olho na cena, nanda rovere, chananda rovere, estreias de teatro são Paulo, estreias de teatro sp, criticas sobre teatro, criticas sobre teatro adulto, criticas sobre teatro infantil, estreias de teatro infantil sp, teatro em sp, teatros em sp, cultura sp, o que fazer em são Paulo, conhecendo o teatro, matérias sobre teatro, teatro adulto, teatro infantil, shows em sp, eventos em sp, teatros em cartaz em sp, teatros em cartaz na capital, teatros em cartaz, teatros em são Paulo, teatro zona sul sp, teatro zona leste sp, teatro zona oeste sp, nanda roveri,

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