Com dramaturgia de Alfred Jarry, o espetáculo que estreou no ano passado faz uma sátira ao Brasil atual. Por esse motivo, muitos detalhes que nos remetem ao cenário político (extremamente atual) não são mera coincidência, e sim demonstram o talento e a sensibilidade de Gabriel Villela e dos Geraldos para trabalharem com temas pertinentes, entre eles a ambição pelo poder, que gera a violência e o desrespeito e é algo abominável. Seres parecidos com os personagens criados por Alfred Jarry, e que habitam o Brasil e o mundo, são deploráveis.
De 27 de janeiro a 12 de março, o público paulistano terá a oportunidade de conferir um espetáculo criativo, divertido e muito crítico, mas sem perder a poesia típica do imaginai de Villela.
Na trama em que Pai e Mãe Ubu fazem de tudo para conseguir o poder, vemos o quanto é grotesco esse universo em que impera a ganância e desrespeito.
A peça é um clássico do teatro ocidental, marco de ruptura e transgressão no século XIX.
Com a tradução de Gregório e Barbara Duvivier, e a percepção afiada de Villela para colocar no palco uma sátira muito inteligente sobre o momento em que vivemos, Ubu Rei ganha os palcos brasileiros mostrando o quanto o nosso teatro é de alta qualidade.
Ubu Rei teve a sua primeira sessão no Festara, Festival de Teatro de Araçatuba, SP, fez uma emocionante apresentação no Sesc Campinas, cidade onde o grupo Os Geraldos tem a sua sede e agora faz temporada no Teatro Anchieta, do Sesc Consolação, que está entre os melhores espaços da capital paulista.
O espetáculo, nas palavras de Villela: o diretor, que assina o cenário e o figurino, ressalta a vinculação direta do espetáculo com a situação sócio-político-cultural brasileira. “Nós criamos um delírio tropical, em que fazemos uma sátira afiada do nosso país, respondendo, com violência poética, à selvageria e à estupidez destes tempos”, declara.
A obra, considerada por dadaístas e surrealistas como precursor desses movimentos artísticos, assim como do teatro do absurdo e da performance, é levada para o palco com a música como ponto essencial para ressaltar o tom popular, anárquico, grotesco e surrealista da montagem.
É um delírio tropical com uma trilha primorosa: Cartomante, de Ivan Lins e Vitor Martins; Canção da Despedida, de Geraldo Vandré e Geraldo Azevedo; Mosca na Sopa, de Raul Seixas; Homem com H, de Antônio Barros; Todo menino é um rei, de Roberto Ribeiro, entre outras pérolas.
O cenário e figurino têm referências ao Brasil tropical, com detalhes que lembram um cabaré; referências do Japão, da África e do universo brega também estão presentes. Elementos artesanais, panos envelhecidos, datados, detalhes exagerados, grotescos e cortes desiguais para mostrar a decadência da sociedade, formam uma colcha de elementos preciosos.
Sinopse: O espetáculo, que marca o segundo encontro do diretor Gabriel Villela com o grupo Os Geraldos (a primeira parceria resultou no belíssimo espetáculo Cordel do Amor sem Fim - ou A Flor do Chico, de Claudia Barral), faz uma sátira do poder obtido por usurpação e exercido com tirania, ao apresentar Pai e Mãe Ubu, um casal entregue à barbárie que invade a Polônia e que, assassinando o rei, assume o seu trono.
Ficha técnica
Direção, cenário e figurino: Gabriel Villela
Direção adjunta e iluminação: Ivan Andrade
Dramaturgia: Alfred Jarry
Tradução: Bárbara Duvivier e Gregório Duvivier
Adaptação dramatúrgica: Gabriel Villela e Os Geraldos
Arranjos Musicais - Everton Gennari
Direção musical e preparação vocal: Babaya Morais e Everton Gennari
Elenco: Carolina Delduque, Ciça de Carvalho, Douglas Novais, Everton Gennari, João Fernandes, Julia Cavalcanti, Gabriel Sobreiro, Gileade Batista, Paula Mathenhauer Guerreiro, Patrícia Palaçon, Railan Andrade, Roberta Postale, Valéria Aguiar e Vinicius Santino
Assistência de figurino e adereços: Cristiana Cunha e Emme Toniolo
Costura: Ateliê de Dona Zilda Peres Villela
Fotografia: Stephanie Lauria
Visagismo: Claudinei Hidalgo
Maquiagem: Patrícia Barbosa
Design gráfico: Vanessa Cavalcanti
Assistência de produção: Bruna Paifer e Nicole Mesquita
Coordenação de produção: Tatiana Alves
Coordenação geral: Douglas Novais
Produção: Os Geraldos
Serviço:
Ubu Rei
Temporada: de 27 de janeiro a 12 de março de 2023 - sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 18h.
Local: Teatro Anchieta – Sesc Consolação (Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo)
Ingressos: Ingressos: R$40,00 (inteira), R$20,00 (Meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência) e R$12,00 (Credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes) - Os ingressos estarão disponíveis para venda em sescsp.org.br a partir de 17/01 ou nas bilheterias do Sesc São Paulo, a partir de 18/01.
Duração: 80 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
Lotação: 280 lugares
Sesc Consolação
Rua Doutor Vila Nova, 245, São Paulo – SP
Metrô Higienópolis-Mackenzie
Informações: (11) 3234 3000
sescsp.org.br/consolacao
Facebook, Twitter e Instagram: /sescconsolacao
Horário de Funcionamento
Terça a sexta, das 10h às 21h30
Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h.
Fotos João TK e Sthefanie Lauria
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