Escrito por Luiz Farina baseado na novela Carmen de Prosper Mérimée, a peça é um clássico que mostra a trajetória de uma cigana que foi conhecida mundialmente, ocupando palcos e telas de cinema.
Carmen surgiu como romance em 1845foi personagem de filmes de grandes diretores, Chaplin, Peter Brook, Lubitsch, Saura e Godard. Nesses trabalhos, ao contrário da obra de Mérimée, a cigana foi mostrada como “femme fatale”, mas que na sua essência foi vítima de assassinato, mas não temia o risco e a morte, com uma história que se opõe aos dogmas da burguesia.
Numa época em que a mulher era criada para ser dona de casa, Carmen vive com José uma trágica paixão.
Nessa montagem, José narra o seu amor por Carmen e explica o motivo que o levou a ser preso. Carmen também expõe o seu ponto de vista em relação à história.
Foi a pulsão dessa mulher, que teve um fim trágico, que impulsionou Natália e Tolezani a levarem a história de Carmen para o teatro. O casal, parceiros na vida e na arte, já encenaram juntos, por exemplo, Fala comigo antes da bomba cair, com textos de textos de Mário Bortolotto e Tennessee Williams sobre o amor.
Segundo Natália, que idealizou o projeto com o seu marido e parceiro profissional Flavio Tolezani, “Este projeto tem como objetivo a montagem do espetáculo, o resgate dos principais personagens criados por Mérimée para que o público volte a se intrigar e querer decifrá-los. E assim, basear-se na literatura de Prosper Mérimé e também permitirá que a construção cênica explore a cultura cigana numa linguagem contemporânea.”, conta Natalia Gonsales.
Flavio destaca que ¨a dinâmica da dramaturgia criada por Luiz Farina, a partir da obra do Mérimée, não admite apenas uma interpretação. Carmen, também como narradora, relata os acontecimentos que levaram à sua tragédia. E assim, a montagem tem como intuito não apenas encenar essa história, mas oferecer ao público elementos conflitantes e contraditórios de uma mesma realidade contados por duas pessoas com pontos de vista divergentes e que são surpreendidas pelo desejo e pela paixão”, comenta o ator.
Na encenação de Baskerville, para ressaltar a trágica história de amor entre Carmen e José, são utilizados elementos clássicos como a dança flamenca, os costumes ciganos e a tauromaquia, resignificados ao som de guitarras distorcidas, microfones e coreografias. “O ponto de vista que nos interessa é o de Carmen, a mulher assassinada, dentro de uma sociedade que pouco mudou de comportamento ao longo dos séculos, que aceitou brandamente crimes famosos cometidos contra mulheres como os de Doca Street, Lindomar Castilho e mais recentemente de Bruno, o goleiro. Crimes muitas vezes justificados pela população pelo comportamento lascivo das vítimas, como se isso não fosse aceito em situações invertidas relativas ao comportamento masculino. O homem pode. A mulher não. Nessa encenação Carmen morre não porque seu comportamento justifique qualquer tipo de punição, mas porque José é um homem, como tanto outros, doente como a sociedade que o criou”, afirma Nelson Baskerville.
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