Quando o assunto é Elias Andreato e Nilton Bicudo, a minha objetividade jornalística é deixada de lado e deixo a emoção aflorar.
Por esse motivo, não assino mais matérias críticas sobre esses artistas, mas continuo divulgando os trabalhos que realizam.
O diretor e ator Elias Andreato está completando 45 anos de uma carreira pautada por inúmeros espetáculos onde a sensibilidade está presente.
Como ator, Elias interpreta personagens com personalidades diversas, que transitam entre o drama e humor.
Como diretor, as suas encenações buscam tocar o espectador através de histórias interessantes, que provoquem reflexões, mas que também divirtam e emocionem o espectador.
Elias é um profissional dedicado, que apresenta em cada espetáculo que estreia, seja como ator ou diretor, um grande talento: a impagável Fran da comédia Amigas, pero no mucho, direção José Possi Neto; o andante e o doido, personagens cheios de poesias dos espetáculos homônimos (cuja direção assinou também); o compositor italiano Antonio Salieri de Um Réquiem para Antonio, direção Gabriel Villela e Vanya, de Vanya e Sonia e Masha e Spike, estão entre as realizações mais recentes como intérprete.
Como diretor, a lista também é imensa: A Graça do Fim, Coisa de Louco (com Nilton Bicudo - textos de Fauzi Arap), O Andante, Doido, Florilégio, Eu não dava praquilo, Jocasta, Meus Deus e Rei Lear estão entre as direções mais atuais.
Nilton Bicudo também é um intérprete de muitas facetas, com talento inquestionável para o humor, mas que também pode fazer o público chorar, como na Graça do Fim, onde interpretou um velhinho muito adoentado e ranzinza.
A hilária Myrna, na peça Myrna sou eu, traz o seu lado tragicômico. Outros trabalhos: Coisa de Louco e Édipo (direção de Elias); O Natimorto, de Mario Bortolotto e Amigas, Pero no Mucho, de Célia Forte, ao lado do Elias.
Nessa nova parceria entre Elias e Niltinho, mais uma vez a dupla apresenta um texto do amigo Fauzi Arap, Dona Bete, escrita em 2007.
Dona Bete é o encontro de profissionais de sucesso (Elias, Niltinho e Arap, in memoriam) e que, além da amizade, têm em comum o amor pelo teatro e a realização de espetáculos que misturam crítica, humor e ironia.
André Acioli divide a direção com Elias, numa parceria que se estabeleceu em várias montagens. A equipe, aliás, está sempre unida: Na Trilha Sonora: Jonatan Harold; Figurino de Fabio Namatame; Fotos de João Caldas; Logo de Elifas Andreato; Programação Visual de Vicka Suarez e Produção Morente Forte.
Em cena, a secretária de um Deputado Federal participa de uma entrevista coletiva para esclarecer a sua possível participação na morte de um traficante.
Ela chega acompanhada de seu advogado, Dr. Olavo, e enquanto aguarda o Deputado, que está demorando muito, resolve depor sozinha e acaba revelando fatos de suma importância para o caso.
O episódio envolve várias pessoas e no decorrer da história o público descobre que Bete é amante do chefe.
Como todo caso que envolve pessoas públicas, os jornalistas fazem de tudo para que a secretária conte o maior número de informações e a história vai se transformando num quebra-cabeça.
Sobre Dona Bete, Andreato declara que pensou em realizar um trabalho poético para comemorar a sua história no teatro…¨Mas vivemos tempos sombrios. Nosso país não contribui para grandes arroubos criativos e nem de empenho para grandes produções. Peguei minha indignação e impotência diante de tanto descaso e resolvi usar minha arma preferida: a ironia. Quero rir de mim e de todos para tornar a vida mais leve diante de tantas tragédias¨, diz.
“Toda a minha vida artística sempre foi dedicada a Fauzi Arap e Maria Bethânia¨, afirma o ator e diretor.
Elias Andreato Por Fauzi Arap – Autor e Diretor – Março de 2012
Vale a pena colocar a fala na íntegra e assim fazer uma homenagem a um dos grandes atores brasileiros:
¨Elias Andreato é um tipo raro de ator, daqueles que conseguem marcar o espectador de forma única. Não sei se a palavra é essencial. Ele conduz a representação de uma forma que é mais próxima de um ritual religioso do que de um espetáculo de cultura ou entretenimento. Os que tiveram o privilégio de assisti-lo sabem do que estou falando. Ninguém passa ileso por ele.
Sei que mais recentemente tem atuado também como diretor com o mesmo refinamento e sucesso que tem em sua carreira de ator. Os inúmeros convites que tem recebido atestam a qualidade de seu trabalho.
É que ele leva consigo uma espécie de silêncio pleno que evoca no outro a presença dessa mesma totalidade que nele já é uma conquista firmada e confirmada.
O teatro traz consigo, em sua origem e essência mais remotas, uma íntima conexão com a coisa religiosa.
A religião, para além de qualquer igreja ou seita, a religião compreendida como a vocação mais genuína de cada ser humano, o reencontro com a totalidade – talvez algo como descobrir Cristo no coração.
Um dos mestres do Teatro chama aqueles que são de sua espécie de ”atores-santos”.
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