Idealização, direção e dramaturgia FERNANDO DE PROENÇA | com CARMEN JORGE, ELKE SIEDLER e JULIANA ADUR |
Como é bom ver artistas que alçam sempre voos, em busca do aprimoramento, com a ideia de sempre suscitar a fomentação do senso crítico através da arte.
Cada vez mais acredito que criticar uma obra artística é complicado.
Claro que tem trabalhos bons e outros ruins, outros com momentos interessantez mas todas as manifestações artísticas trazem a verdade e a visão do artista sobre o assunto que ele aborda e dizer se o que ele está propondo esteticamente é certo ou errado, falho ou perfeito, limita a liberdade da criação.
Choque, por exemplo, tem uma trilha formada basicamente pelos movimentos, sussuros e falas dos bailarinos, subvertendo um balé tradicional (que geralmente tem uma trilha musical como fio condutor. Além disso, tem uma crítica social potente e só por isso já merece aplausos.
Enfim, Fernando Proença dialoga com a dança, performance e sempre busca o diverso, o diferente do que estamos acostumados a assistir. E como o nome já sugere, Choque é para provocar, instigar, incomodar e mostrar que a arte não tem limites; pode, deve, divertir, mas também deve suscitar reflexões .
Algumas observações sobre Choque.
Cor de rosa choque, a cor das ruas, da violência, da diversidade, da loucura de um mundo individualista e onde o limite entre amor e ódio é tênue:
Em cena, três bailarinos. Impressionante a competência física desses profissionais!!
Três coreografias individuais (só num determinado momento é que existe uma comedida conexão entre eles).
Movimentos comedidos, depois intensos, incontroláveis, estranhos...
Um Choque pode ocorrer após uma surpresa diante de algo inesperado, pode causar inação diante de alguma violência verbal ou física (após uma briga, assalto, acidente),
Choque elétrico, Choque após um tiro; poder ser também um Choque com um fato positivo, mas raramente isso acontece.
Choque é dança , é energia, performance, sinergia. É sensorial.
O pensamento de Walter Benjamin foi a inspiração e as coreografias estão aliadas, e alinhadas. à loucura e à sombriedade do mundo atual, traz corpo, movimento, muitos que lembram as danças das ruas, grito, choro, riso. É fluxo, re-fluxo, silêncio, susurro, equilíbrio, desiquilíbrio, perturbação.
Com a luz de Beto Bruel e Lucas Amado, a trilha que predominantente é feita com os movimentos, cantos e falas dos bailarinos, (ora fortes, ora comedidos), conta também com uma intensa música hard rock e termina com uma música mais amena.
Choque nos faz mergulhar num universo onde a dança contemporânea é conectada com as tensões, anseios do mundo de hoje.
Lembra o fluxo de pessoas diversas das grandes metrópoles, como as que caminham pela Av Paulista, em São Paulo, e Rua XV de novembro, em Curitiba.
Lugares onde visualizamos atitudes que geralmente geram o Choque: pessoas falando sozinhas, agindo de um modo fora dos padrões da família tradicional brasileira (e hipócrita, claro!), vestidas sem nenhuma preocupação com as tendências da moda ...mas ser diferente, defender todas as formas de amar, não deveria promover o Choque!
O que faz com que viver seja incrível são os diferentes modos de pensar, ser e agir.
O que deveria ocasionar o Choque é o desamor, o desrespeito, o avanço da extrema direita, enfim, o ódio, a violência e o desrespeito é que deveriam nos deixar em estado de Choque! #nãoaofacismo
Choque é êxtase artístico.
Definir esse espetáculo de modo textual é impossível, aqui só impressões.
Só assistindo para sentir a sinergia.
E como toda manifestação artística, ao assistir ao espetáculo Choque, cada um formará as suas reflexões de acordo com as suas vivências pessoais. |